• Matéria: ENEM
  • Autor: Karlasilver
  • Perguntado 7 anos atrás

redação sobre cultura do estupro​ alguém pode me ajudar por favor!?

Respostas

respondido por: mariaeduardamap8dmhm
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Resposta:

Bela, recatada e do lar

Em maio de 2016, circulou, nas redes sociais, a notícia de que uma jovem de 16 anos havia sido estuprada por mais de trinta homens em uma comunidade do Rio de Janeiro. Surpreendentemente, a reação de muitas pessoas perante essa atrocidade não foi de indignação pela violência sofrida pela garota, mas a de culpabilizá-la por ter "causado" essa violência, já que supostamente era usuária de drogas. Essa situação evidencia um problema estrutural do Brasil, que tem suas origens no machismo e que toma a mulher como culpada pelos abusos sofridos, legitimando o estupro para aquelas que não se adequem ao que é tido como um modelo de mulher ideal.

"Bela, recatada e do lar". Assim é descrita a esposa de Michel Temer, presidente do Brasil, em reportagem publicada pela revista Veja. Esse é o modelo de mulher que o brasileiro tem como digna de ser respeitada. Usuárias de drogas, mulheres que vivem intensamente sua sexualidade ou até mesmo aquelas que não são consideradas "belas" são dignas apenas de desrespeito, de violência, de estupro. Afinal, o comediante Danilo Gentili já não deixou claro que mulheres "feias" deveriam se sentir agradecidas caso fossem estuprada? Os desdobramentos desse pensamento são alarmantes: Segundo dados divulgados pela revista Super Interessante, o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública afirma que, todos os anos, cerca de 50 mil pessoas são estupradas no Brasil, o que mostra o machismo institucionalizado no país legitima e uma cultura do estupro que responsabiliza as próprias vítimas pela violência sofrida. Se foi estuprada, é porque não era bela, não era recatada e não era do lar.

Não bastasse ser desrespeitada, estuprada e culpabilizada, a mulher vítima de violência ainda é silenciada. De acordo com pesquisa divulgada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), estima-se que as notificações de estupro correspondam a apenas 10% dos casos ocorridos. Vergonha, sentimento de culpa e medo são os principais fatores que levam 90% das mulheres estupradas a calar a violência sofrida, o que constitui mais um indício de que a desconstrução de uma cultura machista, que legitima o estupro, está longe de acontecer no Brasil.

Para enfrentar essa situação, é necessário haver um ação sinérgica entre diversos setores da sociedade: Estado, escola e população precisam agir conjuntamente para enfrentar esse problema. O Ministérios de Segurança Pública precisa intensificar o alcance das Delegacias da Mulher, além de fornecer treinamento consistente aos encarregados de lidar com esses casos, elaborando um material de treinamento e oficinas de formação. À escola, cabe colocar a discussão acerca das questões de gênero e tratar sobre machismo e violência com os alunos e alunas. Cabe à escola, também, disponibilizar serviço de atendimento psicológico às garotas que se sentirem violadas em alguma medida pelas práticas de seus colegas, para que cresçam com a consiciência de que nenhum abuso deve ser legitimado ou tolerado. À população, cabe denunciar, através de um Disque Denúncias, sempre que haja algum indício de que alguma mulher esteja sofrendo algum tipo de violência, seja esta sexual ou não. Dessa forma, o combate à cultura do estupro caminhará, ainda que a passos lentos, à extinção no Brasil.

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