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Cumbe", do Marcelo D'Salete é mais uma daquelas leituras necessárias sobre uma época marcada por tensões sociais e que conta um pouco da história de escravos que resistiram à opressão escravagista.
Um trabalho especial, construído a partir de muito estudo e pesquisa, os quais resultaram em uma HQ extremamente rica. Uma fonte de conhecimento preciosa pra todos que quiserem saber mais sobre o período da escravidão, a partir de vozes, por muito tempo silenciadas, de bantos trazidos à força para o Brasil.
Termino a leitura dessa HQ com um desejo imenso de que todos leiam essa obra do Marcelo D'Salete, e tantas outas que contribuem para que seja possível ampliar o entendimento sobre a escravidão e a resistência à opressão, assim como sobre um sistema de dominação que, infelizmente, ainda repercute nos dias atuais.
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Este último sentido é, talvez, onde mora a genialidade do traço de Marcelo D’Salete. As narrativas que compõem ‘Cumbe’ (‘Calunga’, ‘Sumidouro’, ‘Cumbe’ e ‘Malungo’) contam histórias da resistência negra durante a escravidão no Brasil colonial. Em nenhum dos contos do volume, no entanto, as imagens são sangradas (ou seja, elas nunca passam de um quadro a outro ou de uma página a outra): as personagem de D’Salete encontram-se o tempo todo constrangidas pelo espaço do quadrinho, uma forma de confinamento sócio-cultural perpetuado até nossos dias de ‘democrático’ estado de sítio branco. Não obstante, é nesse espaço muitas vezes apertado e sufocante que mulheres e homens negros encontram a força telúrica que lhes permite lutar pelo direito de ser cor, palavra, sonho (e nanquim).
Curiosamente, o silêncio também é elemento fundamental às narrativas de ‘Cumbe’. Nelas, a escassez de texto dá vazão não só à tensão que domina suas páginas, mas, principalmente, às políticas de silenciamento (e demonização) da cultura afro-brasileira e de extermínio de jovens negros anunciadas, continuamente, nos telejornais do país. De forma arrepiante, as personagens de ‘Cumbe’ não precisam dizer muito para escancarar a estrutura profundamente desumana que define as relações de poder no Brasil: o olhar delas nos lembra, como aquele livro dos conselhos do Saramago, que, se podemos ver, é preciso também reparar—em todos o sentidos possíveis dessa palavra.