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Sempre que pensamos na palavra “biodiversidade”, a imagem que nos vem à cabeça é a de uma floresta tropical ou de um animal que está prestes a ser extinto. A biodiversidade, porém, é aplicada hoje também aos níveis mais microscópicos da natureza: a biodiversidade genética, por exemplo, é um desses níveis.
Para entendermos melhor a importância da biodiversidade genética, temos que, primeiramente, lembrar da teoria da seleção natural. Segundo essa teoria, os indivíduos e espécies mais bem adaptados ao seu ambiente conseguem maior sucesso reprodutivo e, conseqüentemente, suas características hereditárias são passadas para a próxima geração. Indivíduos menos
adaptados têm uma menor chance de transmitir seus genes, portanto, suas características hereditárias tendem a desaparecer. De uma maneira geral, os “mais adaptados” continuam a escrever o caminho evolutivo de sua espécie pelas próximas gerações, enquanto que os “menos adaptados” tendem a perecer no meio do caminho.
Ao pressupormos indivíduos “mais” ou “menos” adaptados, está implícito o fato de que esses indivíduos são diferentes. Ora, essa diferença pode ser modelada pelo ambiente, mas toda característica de um indivíduo está presente primordialmente em seu DNA. Sabemos que a maior parte dos genes funciona pela ação de um par de alelos(um alelo transmite a informação genética vinda do pai, o outro alelo a informação vinda da mãe). Esses alelos podem estar em heterozigose(quando a informação genética é diferente, representada classicamente como Aa) ou homozigose(quando a informação genética é igual, classicamente representada por AA ou aa).Assim, a diferença genética entre indivíduos e entre espécies é ampla e fundamental, pois ela fornecerá a base necessária para que a seleção natural atue.
Mas, na prática, como os cientistas hoje em dia avaliam a importância da biodiversidade genética?
Em linhas gerais, podemos dizer que quanto maior a diversidade genética de uma população, maiores são suas chances de sucesso evolutivo. Isso porque, caso haja mudanças ambientais, a população com a maior variabilidade genética (ou seja, maior número de alelos determinando variações nas suas características) terá maior chance de ter um alelo que responda positivamente à mudança ambiental ocorrida. Lembre-se, porém, que a evolução atua nas populações como um todo, ou seja, no conjunto de indivíduos de uma mesma espécie. Então, às vezes, uma mudança pode ser prejudicial ao indivíduo, eliminando-o, mas, para a população como um todo, são selecionados os indivíduos mais aptos.
Ararinha azul, animal severamente ameaçado de extinção
Cyanopsitta spixii, a ararinha azul, nativa do Brasil
Assim, a idéia de que quanto maior a diversidade genética, maior será a chance de sucesso evolutivo, é parcimoniosa com a idéia de seleção natural. Em essência, a perda de variabilidade genética reduz futuras opções evolutivas. Hoje em dia, a biodiversidade genética é analisada em três esferas diferentes: primeiro, na diferença genética entre indivíduos, principalmente medida na taxa de heterozigose. Segundo, nas diferenças genéticas entre indivíduos de uma mesma população; terceiro, na diferença genética entre populações distintas.
Para entender melhor esses conceitos vamos analisar 2 exemplos reais:
- As ararinhas azuis (Cyanopsitta spixii), nativas do Brasil, existiam em número de 55 indivíduos no ano de 2003, e todos em cativeiro ao redor do mundo(Revista National Geographic – Março/2003). Uma opção para que esse número de indivíduos aumente e para que a população tenha maior chance de sobrevivência seria o cruzamento entre indivíduos geneticamente afastados, para que a diversidade genética vá aumentando. Se apenas aparentados cruzassem, as chances de sobrevivência diminuirão, já que um único parasita, por exemplo, poderia matar todos indivíduos, dada a sua proximidade genética. O problema de redução da variabilidade genética é comum em populações pequenas e isoladas. Outros exemplos de populações desse tipo: guepardo africano(Aciononyx jubatus) e peixe-boi da costa brasileira(Trichechus manatus).
- Na África, temos um exemplo da importância da heterozigose em populações humanas, na produção da cadeia beta da hemoglobina. O alelo normal(vamos chamá-lo "A"), quando presente na forma AA, deixa o indivíduo susceptível a malária, doença comum em algumas áreas do continente. Uma segunda forma do alelo, quando em homozigose(BB), leva o indivíduo a possuir uma forte anemia. Mas quando presente na forma heterozigota(AB), o indivíduo está protegido da malária e apresenta apenas uma pequena anemia. A heterozigose, aqui, aumenta as chances de sobrevivência e adaptação desse indivíduo.