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O pontificado de Inocêncio III representa o apogeu do Papado na Idade Média; muitas das suas manifestações não seriam entendidas em nossos dias, nem podem ser reproduzidas, mas hão de ser consideradas no contexto da respectiva época, que tendia a realizar o ideal da Cidade de Deus mediante a estreita colaboração do Papado e do Império sob a hegemonia daquele.
Pela primeira vez na história, o Papa, na pessoa de Inocêncio III se denominou “Vigário de Deus” na terra. Até então os Pontífices Romanos se haviam designado “vigários de Pedro”; este último título não se encontra na coleção de Bulas de Inocêncio III. O clero espontaneamente recorria a Inocêncio para resolver problemas administrativos ou pastorais. Assim dava-se uma centralização progressiva do governo da Igreja, que na época podia acarretar inconvenientes, pois havia dificuldades de comunicação e a Cúria Romana estava ainda em fase de organização e, portanto, de trabalho lento.
Perante os soberanos deste mundo, o Papa era o “representante de Cristo, ou seja, do Rei dos reis e do Senhor dos senhores” (cf. Ap 19,16); mais de vinte vezes ocorre esta fórmula nos documentos do Pontífice. Daí se seguia que o poder do Império devia estar subordinado ao Sacerdócio, ao menos no foro ético ou na medida ‘ em que o comportamento do Imperador estava sujeito às normas da moralidade. A Igreja seria o “luzeiro maior”, que ilumina o dia, ao passo que o Estado seria o “luzeiro menor”, que ilumina a noite (cf. Gn 1,16). Por isto Inocêncio chegava a dizer que é o Papa quem confere e tira as coroas dos soberanos.
Estas ideias não deixaram de suscitar protestos mesmo na sua época; assim os partidários de Filipe da Suábia (os Staufen) reclamavam contra a intervenção pontifícia na eleição do rei da Alemanha, afirmando a separação nítida do Sacerdócio e do Império. Inocêncio podia ignorar esses protestos, pois o século XIII acariciava, apesar de tudo, o ideal da teocracia (ou do regime de Deus). Em breve, o ambiente estaria mudado, pois, quando Bonifácio VIII (1294-1303) quis repetir os dizeres e as atitudes de Inocêncio III perante Filipe IV o Belo da França, foi desrespeitado e perseguido pelo monarca.
Embora exercesse função de grande autoridade, Inocêncio III cultivou as virtudes, entre as quais a simplicidade e a pobreza pessoal: cortou gastos inúteis, dispensou a maioria dos porteiros e servidores que o cercavam, a fim de que três vezes por semana qualquer pessoa o pudesse abordar; substituiu vasos e talheres de metal por outros de vidro e madeira; refreou a avareza e a ambição dos cortesões, que procuravam gorjetas no exercício de suas funções. Foi também o amigo dos frades mendicantes, especialmente de S. Francisco de Assis, que “esposara a Dama Pobreza” e cuja Regra Inocêncio III aprovou oralmente. O vulto deste Pontífice merece a reverência dos pósteros, embora tenha sido fortemente criticado por haver sido aparentemente a antítese do “Poverello de Assis”.