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Resposta:
desculpa se ficou grande mas,
Explicação:
Os europeus constataram que o mundo não era governado por leis fundamentais e imutáveis e que eles podiam explorar e manipular a natureza com resultados espantosos. Podiam controlar seu ambiente e satisfazer suas necessidades materiais como nunca.
No entanto, à medida que se acostumavam com essa racionalização de sua vida, o logosganhava prestígio e o mito caía em descrédito. As pessoas se sentiam mais seguras em relação ao futuro. Podiam institucionalizar mudanças sem consequências temíveis.
Os ricos, por exemplo, agora se dispunham sistematicamente a reinvestir capital na expectativa de inovações constantes e da contínua prosperidade dos negócios. Essa economia capitalista habilitou o Ocidente a repor seus recursos indefinidamente, imunizando-o contra as limitações das sociedades agrárias.
Quando essa racionalização e essa tecnicização da sociedade redundaram na Revolução Industrial do século XIX, os ocidentais já confiavam tanto no progresso incessante que, ao invés de ir buscar inspiração no passado, viam a vida como uma intrépida marcha rumo ao futuro, a conquistas sempre maiores.
O processo envolveu transformação social. Demandou um número crescente de pessoas, atuando num nível bem humilde. Indivíduos comuns se tornaram tipógrafos, maquinistas, operários e tiveram de alcançar certos padrões modernos de eficiência. Exigiu-se de mais e mais gente um mínimo de instrução. Mais e mais trabalhadores se alfabetizaram e, assim, inevitavelmente passaram a reivindicar uma participação maior nas tomadas de decisão de sua sociedade.
Uma forma mais democrática de governoera essencial. A nação que quisesse usar todos os seus recursos humanos para modernizar e aumentar sua produtividade teria de integrar à cultura predominante em grupos até então segregados e marginalizados, como os judeus.
Os trabalhadores instruídos já não se submeteriam às velhas hierarquias. Os ideais de democracia, tolerância e direitos humanos universais – valores sagrados na cultura secular do Ocidente – emergiram como componentes do intrincado processo de modernização. Belos ideais, acalentados por estadistas e cientistas políticos, mas também, ao menos em parte, ditados pelas necessidades do Estado moderno.
Na Europa dos primórdios da modernidade, as transformações sociais, políticas, econômicas e intelectuais se entrelaçaram, dependendo umas das outras. A democracia constituía a forma mais eficiente e proveitosa de organizar uma sociedade modernizada, conforme se evidenciou quando os Estados do Leste europeu, que não adotaram normas democráticas e empregaram métodos mais draconianos para integrar grupos marginalizados, ficaram para trás na marcha do progresso.
Esse período fascinante envolveu também violentas mudanças políticas, que os indivíduos procuraram absorver religiosamente. As velhas modalidades medievais de fé já não confortavam, pois não podiam funcionar com clareza nessas circunstâncias modificadas. Era preciso enxugar a religião e torná-la mais eficiente, como na renovação católica do século XVI.
Entretanto, as reformas do começo da modernidade mostram que os europeus ainda se atinham ao espírito conservador, embora o processo de modernização estivesse em andamento no século XVI. Como os grandes reformadores muçulmanos que Karen Armstrong examinou, os reformadores protestantes se voltaram para o passado na tentativa de encontrar uma nova solução para uma época de mudança.
Martinho Lutero (1483-1556), João Calvino (1509-64) e Huldrych Zwingli (1484-1531) reportaram-se às fontes da tradição cristã. lbn Taymiyyah rejeitou a teologia e a fiqhmedievais para poder retornar ao islamismo puro do Alcorão e da Suna.
Lutero também atacou os teólogos escolásticos medievais e procurou retornar ao cristianismo puro da Bíblia e dos Padres da Igreja. Os reformadores protestantes eram, pois, revolucionários e reacionários, como os reformadores muçulmanos conservadores. Não pertenciam ainda ao mundo novo que despontava, pois ainda estavam arraigados no passado.
No entanto, eram homens de seu tempo, e esse era um tempo de transição. Ao longo do livro Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo,Karen Armstrong mostra que o processo de modernização pode provocar grande ansiedade. As pessoas se sentem desnorteadas e perdidas com as alterações em seu mundo. Como vivem in medias reserva – latim para “no meio das coisas”, é uma técnica literária onde a narrativa começa no meio da história –, não conseguem ver o rumo que a sociedade está tomando, mas experimentam sua lenta transformação de maneiras incoerentes.
Enquanto a velha mitologia que conferia estrutura e significado a suas vidas desmorona sob o impacto da mudança, elas em consequência, eventualmente, sofrem uma perda de identidade que as entorpece e um desespero que as paralisa. As emoções mais comuns, conforme Armstrong mostra, são o sentimento de impotência e o medo da aniquilação, que, em circunstâncias extremas, chegam a traduzir-se na violência do fundamentalismo.