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Jogos de linguagem
A linguagem não é uma coisa morta em que cada palavra representa algo de uma vez por todas. Ela é uma atividade humana situada cultural e historicamente. Os jovens, por exemplo, adoram usar termos diferenciados que correspondem ao seu grupo, mas que fora dele poucos compreendem. Assim, "radical" já foi usado para designar algo que é "maneiro" ou "massa", um sujeito "legal" pode ser considerado "sangue bom" ou "moral" dependendo do lugar onde viva.
A idéia de jogos de linguagem rompe com a visão tradicional de que aprender uma língua é dar nomes aos objetos. Imagine que você está em um passeio turístico e se perdeu de seu grupo. No lugar em que você está a população só fala o idioma local, que você desconhece. Como você faria para se comunicar?
Talvez você tentasse se comunicar primeiro por mímica ou tentasse desenhar o que queria. Os nativos falariam alguma coisa na língua deles e você talvez repetisse na esperança de estabelecer algum laço de comunicação. Talvez com um bocado de paciência vocês acabassem se entendendo e essa história acabaria tendo um final feliz. Naturalmente, ocorreriam muito mais equívocos do que acertos, isso porque mesmo gestos que para nós são banais como acenar a cabeça, podem significar coisas muito diferentes em outra cultura.
Linguagem e forma de vida
É claro que designar objetos é uma parte importante da linguagem, mas ela não se reduz a isso. Mesmo uma criança quando está aprendendo a falar ainda não é capaz de entender elucidações indicativas (mímica, jogos com os olhos), justamente por desconhecer o significado daquela palavra que queremos elucidar.
Como ilustra Wittgenstein, quando mostramos um objeto para uma criança e dizemos: "este é o rei", essa elucidação só passa a fazer sentido enquanto denominação de uma peça de xadrez se a criança "já sabe o que é uma figura do jogo". O que pressupõe que ela já tenha jogado outros jogos ou que tenha assistido a outras pessoas jogando "com compreensão" ("Investigações Filosóficas", § 31).
Portanto, o aprendizado de uma língua não pode ser visto apenas como mero aprendizado da designação de objetos isolados. Esse é apenas um ato secundário dentro de um processo em que a criança, ao mesmo tempo em que aprende a língua materna, também se apropria de um determinado entendimento do mundo. A criança aprende junto com a linguagem uma determinada forma de vida.
Formas de vida e jogos de linguagem constituem, portanto, as categorias centrais da nova imagem da linguagem elaborada por Wittgenstein. Nessa nova imagem, a linguagem é sempre ligada a uma forma de vida determinada, contextualizada dentro de uma práxis comunicativa interpessoal.