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A relação entre a Literatura e a Realidade tem sido alvo de debates desde a antiguidade clássica. Na Grécia antiga, nos tempos antes de Cristo, os teóricos já se ocupavam do tema. A princípio pensava-se a Literatura como cópia da realidade, mas percebeu-se que a arte em geral não oferece uma cópia fiel do real.
Por exemplo, uma pintura, uma escultura, uma fotografia oferecem, na verdade, um recorte da realidade, um instante que é exposto a partir do olhar do artista. Então, as formas da arte são capazes de fixar ou representar um instante, uma história, mas o fazem de dada perspectiva, ou seja, não é uma leitura imparcial, mas permeada do ponto de vista do artista que a concebeu.
A Literatura, por sua vez, traz as imagens do mundo, às quais estamos habituados, transformadas em palavras. Por isso, se costuma dizer que ler é viajar, pois podemos ter acesso a um mundo composto de palavras, criado por tinta e papel, e que, mesmo sendo fruto da ficção, nos leva a lugares que recebemos como verdadeiros.
Esse é um dos aspectos primordiais para que um texto chame a atenção do leitor a ponto de conseguir envolvê-lo: parecer verdadeiro, sem necessariamente sê-lo. A isso se costuma chamar verossimilhança.
A verossimilhança é o que propicia que o leitor receba as estórias presentes nos textos como reconhecíveis e possíveis, mesmo que distantes no tempo e no espaço.
Nota-se, assim, que o que se tem nos textos literários, e nas artes em geral, é algo que se quer verdadeiro, sem sê-lo verdadeiramente. O universo das letras, das palavras, é capaz, então, de oferecer uma representação da realidade, não à realidade tal qual a conhecemos e a vivenciamos diariamente.
Por isso, um escritor pode inventar diversas estórias, e não unicamente a história da sua vida. E, da mesma forma, o poeta pode ser um fingidor, que finge não somente as suas dores e alegrias, mas as possibilidades infinitas que podem ser vividas pelo eu-lírico.
Sobre a representação nas artes, o conhecido pintor René Magritte propôs interessante tela intitulada “Isso não é um cachimbo”. Ora, a tela trazia a imagem de um cachimbo, então como podia não tratar-se de um cachimbo?
O que Magritte queria dizer é que a tela não trazia um cachimbo, mas a imagem de um cachimbo. Ao ser questionado sobre isso respondeu, simplesmente, que não seria possível pegar aquele cachimbo da tela e tragá-lo.
Da mesma maneira, a Literatura não retrata a realidade, mas a representa. As personagens que encontramos podem ser até parecidas com pessoas que conhecemos, mas não são elas! As narrativas podem até apresentar proximidade com as experiências dos escritores, mas não são, necessariamente, frutos de sua vida. São, antes de tudo, frutos da imaginação criativa e invenções.
Em razão disso, a leitura do texto literário pode ser tão prazerosa e divertida, e é essa a proposta que precisa ser passada às crianças. A imaginação, a brincadeira, o lúdico presentes em muitos textos literários podem despertar o gosto pela leitura. Incentivar e tornar possível esse despertar, devendo ser o objetivo principal de uma Literatura direcionada à infância.