machado de Assis escreve a Quintino Bocaiúva por que
(a) sentiu necessidade de desabafar com o amigo
(b) tem pelo o autor uma enorme admiração
(c) não é reconhecido pela crítica
(d) o considera uma autoridade literária
Respostas
Resposta:
Letra (A)
Explicação:
Resposta:
letra (a)sentiu-se necessidade de desabafar com o amigo
Explicação:
Meu amigo,
Vou publicar as minhas duas comédias de estréia; e não quero fazê-lo sem o conselho da tua competência.
Já uma crítica benévola e carinhosa, em que tomaste parte, consagrou a estas duas composições palavras de louvor e animação.
Sou imensamente reconhecido, por tal, aos meus colegas da imprensa.
Mas o que recebeu na cena o batismo do aplauso pode, sem inconveniente, ser trasladado para o papel? A diferença entre os dois meios de publicação não modifica o juízo, não altera o valor da obra?
É para a solução destas dúvidas que recorro à tua autoridade literária.
O juízo da imprensa via nestas duas comédias - simples tentativas de autor tímido e receoso. Se a minha afirmação não envolve suspeitas de vaidade disfarçada e mal cabida, declaro que nenhuma outra ambição levo nesses trabalhos. Tenho o teatro por coisa muito séria e as minhas forças por coisa muito insuficiente; penso que as qualidades necessárias ao autor dramático desenvolvem-se e apuram-se com o tempo e o trabalho; cuido que é melhor tatear para achar; é o que procurei e procuro fazer.
Caminhar destes simples grupos de cenas - à comedia de maior alcance, onde o estudo dos caracteres seja consciencioso e acurado, onde a observação da sociedade se case ao conhecimento prático das condições do gênero, - eis uma ambição própria de ânimo juvenil e que eu tenho a imodéstia de confessar.
E tão certo estou da magnitude da conquista, que me não dissimulo o longo estádio que há de percorrer para alcançá-la. E mais. Tão difícil me parece este gênero literário que, sob as dificuldades aparentes, se me afigura que outras haverá, menos superáveis e tão sutis, que ainda as não posso ver.
Até onde vai a ilusão dos meus desejos? Confio demasiado na minha perseverança. Eis o que espero saber de ti.
E dirijo-me a ti, entre outras razões, por mais duas, que me parecem excelentes: razão de estima literária e razão de estima pessoal. Em respeito à tua modéstia, calo o que te devo de admiração e reconhecimento.
O que nos honra, a mim e a ti, é que a tua imparcialidade e a minha submissão ficam salvas da mínima suspeita. Serás justo e eu dócil; terás ainda por isso o meu reconhecimento; e eu escapo a esta terrível sentença de um escritor: "Les amitiés qui ne résistent pas à la franchise, valent-elles un regret?"
Teu amigo e colega,
MACHADO DE ASSIS