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No entanto, para o professor da UFG João Alberto da Costa Pinto, Caio Prado Jr. é o intelectual que teve menos alcance público ao longo das conjunturas de sua trajetória político-institucional. “O suposto marxismo do autor reiterava um projeto político para o país expressivamente nacional-corporativista. Ele consagrou-se pela posição dissidente no interior do PCB e como empresário no ramo editorial, mas, efetivamente, no debate público dos problemas políticos do seu tempo a sua obra e as suas repostas políticas tiveram pouco alcance, ao contrário das complexas e contraditórias trajetórias de Nelson Werneck Sodré e Gilberto Freyre”.
O professor de Goiânia, contrariando as análises historiográficas recorrentes, acredita ainda que nenhum livro de Caio Prado Jr. demonstre uma interpretação historiográfica ou filosófica sustentada na obra de Karl Marx. “Suas obras são um solene mal-entendido com o marxismo. Caio Prado Jr. apresenta ali [em Dialética do conhecimento (1953) e Notas introdutórias à lógica dialética (1959)], uma apologia do stalinismo como termo histórico de uma evolução complexa do marxismo”, afirma.
“Uma viagem pelo Brasil é, muitas vezes, uma incursão pela história de um século e meio para trás”
A frase acima, do autor de Formação do Brasil contemporâneo (1942), mostra bem, na opinião do professor Bernardo Ricupero, a triste atualidade do pensamento pradiano. A importância do agribusiness no país, a grande exploração agrária e as péssimas condições de trabalho que os caracterizam são alguns elementos atuais elencados por Ricupero sobre os quais Caio Prado já debatia. “Mesmo um aspecto da obra de Caio que foi muito criticado, a pouca importância que atribui à industrialização, adquire hoje surpreendente atualidade”.
Partindo de uma perspectiva contrária, João Alberto da Costa acredita que, apesar de ser clássico e fundamental, Caio Prado Jr. não pode ser visto acriticamente como um clássico do marxismo brasileiro, pois se trata de um dos últimos pensadores autoritários do país. “Nesse sentido, ainda é atual para se entender o Brasil, mas sob uma perspectiva contrária ao que diz o senso comum historiográfico: é um autor racista e autoritário”, afirma.
Para Ricupero, no entanto, o maior legado de Caio Prado foi ter “procurado fazer com que teoria e prática se encontrassem. Dessa maneira, elaborou uma interpretação do Brasil que procurou abrir caminho para a ação dos ‘de baixo’ e levou à frente diversas iniciativas ‘práticas’ que não descuidaram da dimensão ‘teórica’”. O professor de ciência política da USP acredita que essa é uma das principais características de Prado, “alguém que não aceitou separar a vida da obra”, o que marcou, ao longo de toda sua trajetória, a busca por uma ‘teoria prática’.
Já para Bernardo Pericás, a atualidade é uma marca de todos os clássicos intérpretes do Brasil no geral. “Para entender quem nós somos, para que possamos identificar todos esses gargalos que nós temos, os nós górdios que temos que desatar, nós precisamos entender nossa realidade, nossa história. E nada melhor que esses clássicos. Hoje se faz no máximo análise conjuntural. Antes os intelectuais, para entender o momento que eles viviam, iam até a colônia, faziam uma análise muito mais profunda das raízes do nosso problema”, afirma.
Os passos de Caio Prado Júnior, marcados pelo vacilar constante ora entre a academia, ora entre a militância política, não são características, atualmente, da intelectualidade brasileira, na opinião de Pericás. “Hoje em dia você tem uma intelectualidade acadêmica brasileira que está muito fechada dentro das próprias paredes da universidade, então você acaba tendo debates academicistas muitas vezes que não transbordam para os debates populares, para os debates políticos mais amplos”, argumenta o historiador.