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A Historia Brittonum faz parte de um conjunto de fontes latinas sobre os bretões no período da Alta Idade Média. Antes dela foram escritas The Excidio et Conquestu Brittaniae (540) e Historia Eclesiastica Gentis Anglorum (731), de Beda. A principal importância da nossa obra é a de ser a primeira delas a apresentar a figura do mítico Artur, visto no relato como um guerreiro invencível. A existência de Artur não é atestada pela historiografia. Se viveu teria sido um chefe bretão vencedor de doze batalhas contra os saxões no século VI, conforme nos apresenta Nennius.
Como o mito arturiano surgiu primeiro entre os bretões, seria interessante situar historicamente esta população cuja origem eram os celtas. Estes povos habitavam diversas áreas da Europa Ocidental desde a Pré-História, e mais tarde foram dominados por outros inimigos, prevalecendo principalmente nas Ilhas Britânicas. Viviam em tribos rivais entre si, sendo comandados por um chefe ou rei. Acreditavam na existência do Outro Mundo, a terra dos deuses, que podiam entrar constantemente no mundo dos vivos, como no conto galês Pwill, Príncipe de Dyved no qual um deus e um mortal trocam de lugar por um período de um ano (Mabinogion, 2000, p.23-51).
A partir do século II a.c., os romanos dominaram a Gália, que foi romanizada, perdendo seus elementos célticos, o que não aconteceu com a Bretanha, cujo sudeste eles invadiram no ano 43 a.c. Porém, sua estrutura hierárquica e sua cultura permaneceram intocadas. (MARKALE, 1994, p. 152-156). Os romanos construíram o muro de Adriano para impedir que outros povos (como os pictos, habitantes da atual Escócia e os escotos, os irlandeses) atacassem a Bretanha. Quanto à Irlanda e País de Gales, não sofreram o seu domínio, tornando-se fundamentais para conservar os elementos da cultura céltica, que foram transmitidos oralmente por toda a Idade Média.
Com a queda do Império Romano no século V, os bretões passaram a ser atacados pelos antigos inimigos e por outros povos que vinham do Mar do Norte, os saxões, frísios e jutos, mais conhecidos pelo termo genérico de saxões, os quais conseguiram tomar definitivamente a Bretanha no século VI. É daí que surge a lenda arturiana, pois a existência de Artur não é comprovada pelas fontes. Artur surge assim, como um mito de resistência e ligado a um desejo de unificação que nunca existiu na Bretanha após a sua dominação pelos saxões. Por isso, de acordo com a lenda, um dia ele voltaria para unir todos os bretões contra os invasores. Pelo que sabemos através de Nennius, Artur teria sido um dux bellorum (comandante militar) que, como vimos, venceu várias batalhas contra os inimigos, sendo a mais importante a Batalha do Monte Badon, datada por uma outra fonte, os Annale Cambriae (século X), como tendo ocorrido no ano 516 (BRUNEL, 1997, p. 101).
Após a vitória saxã, os bretões se dirigiram para as regiões montanhosas do norte e oeste (Escócia, País de Gales e Cornualha), morreram ou fundiram-se com os recém-chegados. Outros bretões emigraram para o norte da França, na Pequena Bretanha (Armórica) (ABRAMSON, 1978, p.177).
Os saxões fixaram-se no sul e os jutos no sudeste em Kent e também na ilha de Wight e os anglos no centro. Toda a terra submetida recebeu o nome de terra dos anglos ou Inglaterra e seus habitantes de anglo-saxões. A partir do século IX com as invasões vikings houve a união dos reinos dos anglos por um único rei. Mais tarde, em 1066, a Grã-Bretanha foi conquistada pelos normandos na batalha de Hastings. Estes, logo a seguir afirmaram ser descendentes do rei Artur na obra Historia Regum Britanniae (História dos Reis da Bretanha), de Geoffrey de Monmouth, escrita entre 1135 e 1138, a qual apresenta Artur como um rei cristão invencível, como explicaremos mais adiante.
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