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É como um jogo de armar que, aos poucos, aqui vai sendo montado, à medida que é transportado pelas caravelas lusitanas: um cântico hoje, um verso depois, em seguida uma dança ou um instrumento musical. Afinal, todo um complexo fascinante de músicas e danças que se constituirá no próprio arcabouço da futura música popular brasileira.
De Portugal, recebemos todo o sistema harmônico tonal `*` que é o próprio fundamento de toda a música do Ocidente. A maioria esmagadora dos textos e dos temas literários veio igualmente da Corte, tal como uma intimidade de cantos tradicionais lusitanos. E foi certamente Portugal que nos forneceu a síncopa `**`, aqui aprimorada com a ajuda dos negros.
Muitas foram também as danças que nos vieram da República Portuguesa, prontinhas para o consumo, tais como a roda infantil, as danças dramáticas como o Reisado (Pastoris, a Nau Catarineta), que chegam a constituir autênticos autos `***`.
É aliás, lusitana de origem aquela que iria tornar-se a mais brasileira da danças dramáticas: o Bumba-meu-boi.
Portuguesas são ainda as formas poéticas e líricas como a Moda, o Acalanto, o Fado – que era, aliás, originalmente dançado. Mário de Andrade, que foi o pesquisador que melhor recenseou a influência lusitana na formação da música popular brasileira, considerando-a nada menos que "a mais vasta de todas", menciona outras contribuições portuguesas como a fixação de nosso tonalismo harmônico e a transmissão da quadratura estrófica.
Entretanto, esta relação de contribuições não estaria completa sem os instrumentos musicais por nós herdados de Portugal que, por sua importância, serão apresentados separadamente nas páginas seguintes.
Todos os instrumentos musicais básicos – como a flauta, o cavaquinho e o violão – que irão desempenhar, quase quatro séculos mais tarde, um papel preponderante na formação do choro e em toda a nossa música instrumental executada por pequenos grupos, chegaram ao Brasil via Portugal.
Assim foi também com instrumentos tão significativos para a evolução da música brasileira – como o piano, o oficlide, a clarineta, o violino, o contrabaixo e o violoncelo. Heranças mais populares? Temos a viola, a sanfona, o triângulo, e até o pandeiro, inicialmente desprovido de couro, que os povos ibéricos conheceram quando suas terras foram sucessivamente invadidas pelos romanos e pelos romanos e pelos árabes.
O berimbau-de-boca, de origem européia, também chegou ao Brasil pelas caravelas lusitanas. O Padre Fernão Cardim, um dos jesuítas que mais estudou o Brasil Colônia nos conta que, na Bahia, por ocasião dos festejos natalinos de 1583, ele fez ouvir: "Tivemos pelo Natal um devoto presépio na povoação, aonde algumas vezes nos ajuntávamos com boa e devota música, e o irmão (Barnabé Tello) nos alegrava com seu berimbau". O folclorista Luís da Câmara Cascudo levanta, entretanto, uma dúvida: não seria antes o berimbau do Pe. Tello uma marimba? "Creio que o berimbau do irmão Barnabé seria uma marimba, também denominada marimbau, e mesmo confundida com o berimbau". Neste caso, seria de origem africana – e não portuguesa – o instrumento com que o Pe. Barnabé esparziu alegria na festa natalina de que participou em fins do século XVI.
O já mencionado Mário de Andrade, por sua vez, especifica que "o mais importante da herança musical portuguesa é europeu e não exatamente lusitano", enfatizando ainda as contribuições musicais que o brasil, por sua vez, teria dado a Portuga, incluindo elementos rítmicos de origens tão discutíveis como o fado e a modinha.
Apesar disso tudo, quando se for tentando praticar uma injustiça, não será nunca demais repetir esta frase-mantra do folclorista Renato Almeida: "As persistências mais duradouras na nossa música são as lusitanas", na certeza de que, pronunciando-a, nenhum favor estaremos prestando a Portugal...
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`*` estrutura de sons utilizada para construir a música constituída, neste caso, pelas doze notas da escala cromática, e suas diferentes combinações, na base da escala de sete notas.
`**` ou síncope – relativo ao ritmo; trata-se do som articulado sobre um tempo fraco, ou sobre a parte fraca de um tempo de uma música.
`***` gênero dramático da Idade Média, que inclui bailados e cantos com personagens geralmente alegóricos, como os santos, as virtudes, os pecados, etc. introduzido no Brasil como forma de catequese pelos jesuítas, o auto modificou-se, perdendo o caráter religioso e incorporando elementos tipicamente nacionais.
Referencia bibliográfica: Brasil Musical -Viagem pelos Sons e Ritmos Populares
Autores: Tarik de Souza – Ary Vasconcelos – Roberto M. Moura – João Máximo – Roberto Muggiati – Luiz Carlos Mansur – Turbirio Santos – Affonso R. de Sant`Anna – Rita Cáurio
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