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A escola não consegue mais atrair o jovem brasileiro, e o que prova isso são as estatísticas do Ministério da Educação (MEC). Segundo a pasta, a quantidade de matrículas no ensino médio caiu de 8,7 milhões para 8,3 milhões na última década (2002-2012). A pesquisa O que pensam os jovens de baixa renda sobre a escola, feita com 1 mil estudantes de 15 a 19 anos do ensino médio de São Paulo e de Recife, descobriu as razões que desmotivam os alunos a frequentarem as aulas. O levantamento foi feito pela Fundação Victor Civita em parceria com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Banco Itaú e a Fundação Telefônica Vivo.
O estudo revelou que os jovens não percebem utilidade no conteúdo das aulas. As disciplinas de língua portuguesa e matemática são consideradas as mais úteis por, respectivamente, 78,8% e 77,6% dos alunos. Já geografia, história, biologia e física são consideradas descartáveis para 36% dos entrevistados.
A pior avaliação foi para literatura: apenas 19,1% dos jovens acham que o conteúdo seja útil. Os estudantes desejam atividades mais práticas e alegam que exemplos do cotidiano usados em sala de aula facilitariam o o aprendizado. Mesmo que não considerem o conteúdo das aulas relevantes para a vida, os jovens acreditam que o certificado do ensino médio garante mais chances no mercado de trabalho.
Mercado de trabalho
De acordo com a pesquisa, a ansiedade dos jovens é por entrar o mais rápido possível no mercado profissional. A maioria deseja encontrar um emprego antes de terminar o ensino médio. Mas, na avaliação da coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, Regina Scarpa, o modelo de ensino oferecido pelas escolas não corresponde a essas expectativas e, por isso, muitos estudantes optam por parar de estudar para poderem trabalhar.
Os dados mostram que um em cada cinco alunos declarou que só frequenta a escola para conseguir um diploma. "Os jovens têm consciência que é importante ter um diploma, mas a escola não está conseguindo passar o valor do conhecimento aos estudantes", afirma.
Os adolescentes ouvidos demonstraram ainda estar totalmente conectados às novas tecnologias. Mesmo vindos de famílias com rendas muito reduzidas — 46,6% das famílias dos jovens entrevistados possuem uma renda inferior a R$ 1.500 —, 70,7% têm acesso à internet em casa. Mais da metade dele, isto é, 57,6% usam celular e tablet para entrar em sites e redes sociais.
No entanto, a pesquisa mostra que as escolas parecem não estar interessadas em se apropriar de recursos tecnológicos para conseguir manter os jovens em sala. Apesar de 73,8% dos entrevistados terem declarado que a escola onde estudam é equipada com computadores, 37,2% deles afirmam que nunca utilizaram o equipamento. O baixo uso de tecnologia em sala de aula, a dificuldade em acessar a internet e a proibição do uso de celulares estão entre os fatores que mais incomodam os estudantes.
Sem estímulo
As constantes ausências dos professores também diminuem as chances das escolas reterem os alunos. Cerca de 42% dos entrevistados, por exemplo, não tiveram pelo menos uma das aulas programadas no dia anterior à data de participação na pesquisa. Segundo os jovens, também é problemática a relação interpessoal com os educadores.
Outra reclamação são os já conhecidos problemas de infraestrutura do ambiente escolar, 38% dos estudantes ressaltaram os problemas em relação à conservação do espaço físico. O estudo mostrou que a adoção de equipamentos escolares básicos — como computadores, bibliotecas e quadras de esporte — não é universal. Mesmo quando eles existem, a utilização desses recursos e pouco frequente.
A má conservação também contribui para o sentimento de insegurança nas escolas — que é outro ponto crítico para o afastamento dos jovens da escola. "A questão da violência e do bullying amedronta e atrapalha, pois não torna o ambiente propício para o aprendizado. Para os jovens, os adultos não tem controle da situação. Se eles pudessem contar com os adultos, não haveria esse sensação de insegurança", diz Regina.
O ensino médio é a etapa da vida estudantil com o maior índice de evasão, segundo os dados do MEC. O brasiliense Matheus de Andrade, 17 anos, faz parte dessa estatística. Ele largou os estudos há um ano e meio, quando era aluno do Centro de Ensino 111 do Recanto das Emas. "Vou fazer supletivo quando completar 18 anos. A escola não me motivava, era muita bagunça. No início do ano não tinha professor e, quando tinha, eles faltavam", conta.
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