Oque é o anarquismo?Qual é a ideia defendida pelo anarquismo?Como o indivíduo é visto e tratado no anarquismo?
Respostas
Resposta:
Historicamente, o anarquismo derivou de ideais revolucionários que se juntaram a movimentos populares camponeses e proletariados em uma Europa tomada pela desigualdade social e pela miséria, onde a população de baixa renda sofria à mercê de uma burguesia que contava com o Estado para manter a sua hegemonia econômica. Os anarquistas visaram a derrubar duas figuras centrais da desigualdade social: o capitalismo e o Estado.
A palavra anarquia tem origem grega, em que an representa a negação e archos representa governo. Anarquia seria a ausência de governo aliada à ausência total de Estado, pois a população deveria ser autogerida.
Leia também: O que é Estado?
Onde surgiu o anarquismo?
O primeiro teórico do anarquismo foi o político e filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865). Proudhon era crítico da propriedade privada, pois enxergava nela a origem da desigualdade. Também foi um defensor da supressão do Estado, uma vez que admitia que não deveria existir nada superior ao homem na gestão de sua liberdade.
Proudhon defendia que o Estado era utilizado pela burguesia para manter a relação de domínio sobre os trabalhadores e acreditava que a supressão do Estado aconteceria de maneira política.
O teórico político russo Mikhail Bakunin (1814-1876) foi outro grande pensador anarquista. Inspirado pelo anarquismo de Proudhon e pelas ideias socialistas, inclusive o socialismo científico de Marx, pessoa que Bakunin conheceu na década de 1860, o russo criou uma nova teoria anarquista, mais radical e defensora de ações mais duras para a supressão imediata e total do Estado.
Apesar de certa proximidade entre o russo e Karl Marx, eles discordavam entre si, principalmente quanto à ideia de Estado (enquanto Marx defendia a criação de um Estado socialista forte, Bakunin defendia o fim total dessa instituição) e na ideia dos atores centrais da revolução.
Para Marx, que viveu na Inglaterra industrial do século XIX durante algum tempo, o proletariado era a figura central que conseguiria derrubar o capitalismo, enquanto para Bakunin, que vivia em uma Rússia ainda essencialmente rural, os camponeses é que tinham a força necessária para implantar a revolução.
É importante notar que, tanto o anarquismo de Proudhon e de Bakunin quanto o socialismo científico de Marx e Engels surgiram como resposta a um sistema capitalista voraz que, sem regulações, explorava a mão-de-obra barata de trabalhadores da cidade ou cobrava altos impostos dos camponeses para a manutenção de uma casta, o que causou revolta no século XIX.
Acesse também: Conheça esta outra ideia de socialismo difundida no século XIX
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Características do anarquismo
O anarquismo não se solidificou como pensamento único desde a sua criação até as intentonas revolucionárias do século XX. Todos os anarquistas eram contra o Estado e contra o capitalismo, mas o modo de defender as suas ideias mudou de autor para autor.
Entre os teóricos clássicos, podemos perceber que Bakunin foi mais radical que Proudhon, porque o primeiro defende ações extensivas contra a ordem vigente, enquanto o segundo defendia meios políticos republicanos para acabar com o Estado, ou seja, implodi-lo por dentro, por seus próprios mecanismos.
No fim do século XIX e início do século XX, apareceram figuras ainda mais icônicas que pretendiam levar a cabo a revolução anarquista bakuniniana, como outro russo, o geógrafo, escritor e anarquista Piotr Kropoptkin e o teórico anarquista e ativista político Errico Malatesta.
Uma das principais marcas do anarquismo que o distingue das outras formas de socialismo é a ideia de autogestão democrática da política. Com a extinção do governo, das lideranças e das instituições estatais, que para os anarquistas servem apenas para manter e beneficiar um sistema corrupto, que piora a vida das pessoas, a população poderia reunir-se em assembleias e estabelecer plebiscitos, sustentando uma forma de democracia direta participativa.
Outra ideia central do anarquismo é a valorização da liberdade individual, fator que dá ao anarquismo uma forma de comunismo libertário. Quando há uma força maior que o ser humano e que se impõe como força sobre o ser humano, ele perde a sua liberdade. As regulações governamentais são essas forças repressoras que gerem a vida dos indivíduos, além de gerirem a política ou por meio da política.
O ser humano torna-se um refém do Estado, que o impõe um modo de vida. A lei autogestionária, criada em comum acordo pelos mecanismos de autogestão democrática, é a única lei que se impõe sobre todos, mas ela tem o diferencial de ser estabelecida por todos em comum acordo dentro de um sistema anarquista.