Respostas
Resposta: Ao contrário do que se costuma pensar, a Idade Média não foi um período exclusivamente caracterizado por uma recusa à produção científica e teórica, e pelo estímulo da ignorância. Se hoje em dia pensamos a Idade Média como um período de "trevas", isso se deve aos interesses dos intelectuais iluministas em mostrar que eles traziam o progresso e a iluminação necessários para a humanidade, trazendo a luz onde só havia escuridão como herança.
Muito pelo contrário: foi um período rico de invenções, produção intelectual e outras coisas, incluindo as tecnologias de impressão de Gutenberg, que trouxeram mudanças radicais cujas implicações ainda vemos. Além disso, é na Idade Média que encontramos a chamada "Idade de ouro islâmica", período de vasta produção científica e intelectual, com inovações que o mundo ocidental sequer sonhava.
Da mesma forma, a Filosofia Medieval não consistia apenas de filósofos cristãos se ocupando de subordinar a Filosofia ao Cristianismo. É comum encontrar elaborações complexas e variadas em diversas subáreas da Filosofia, especialmente Epistemologia, Ontologia e Filosofia da Linguagem. Muitas dessas contribuições e debates entre os filósofos medievais são tão pertinentes quanto o que é produzido nos dias atuais. Não é incomum ouvir comparações entre o que a Filosofia Analítica Contemporânea e a Filosofia Escolástica (além disso, muitos historiadores renomados de Filosofia Medieval são considerados membros da tradição Analítica).
A Filosofia Escolástica possuía uma dinâmica de debates bastante intensa, onde filósofos apresentavam e analisavam argumentos, tentavam refutar ou provas proposições etc. Embora a valorização excessiva da racionalidade seja algo questionável, podemos aprender algo com essa cultura, principalmente no que diz respeito aos vários modos de exercitar nossas capacidades mentais e discursivas.
Para as pessoas religiosas, é um período bastante rico em reflexões sobre as relações entre fé e razão, entre Filosofia e Teologia, e temos como causalidade, Deus, criação, bondade, onipotência etc. Além disso, essas reflexões eram variadas e poderiam levar a conclusões bastante diferentes, não sendo subordinadas a uma doutrina específica, embora elas mesmas se baseassem em diversas doutrinas estabelecidas pela Igreja Católica.
Por fim, a importância da Filosofia Medieval vai muito além de ser um museu de opiniões e teses extravagantes; da mesma forma que qualquer outro período da História da Filosofia, apresenta um acúmulo de conceitos, reflexões, teorias e argumentos que podem nos auxiliar em nossa formação teórica, e que pode servir de referência para nossas próprias formulações conceituais. Podemos entender os tipos de problemas com os quais esses filósofos se depararam, refazer o caminho conceitual que eles fizeram, e tentar fazer algo semelhante com os problemas com os quais nos deparamos atualmente.