Respostas
Resposta:
Em textos críticos da ciência moderna, ou da maneira como a ciência é praticada, ou de concepções cientificistas de ciência, encontra-se com frequência a alegação de que a ciência não é neutra. Essa tendência é muito pronunciada na corrente de pensamento pós-moderna conhecida, entre outras designações, como Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS; em inglês STS – Science, Technology and Society). Um problema com a alegação é que nunca se define explicitamente, ou fica claro implicitamente, o que se quer dizer quando se afirma que a ciência é, ou não é neutra. Ou, em outras palavras, qual o sentido do termo “neutro” aplicado à ciência. Daqui por diante, para simplificar a exposição, o termo “neutro” será usado no lugar de “neutro quando aplicado à ciência”, e analogamente, “neutralidade” estará no lugar de “neutralidade da ciência”.
Este ensaio tem três objetivos. O primeiro é preencher a lacuna apontada, propondo uma análise, segundo a qual o termo neutro é polissêmico, tem pelo menos cinco sentidos, cada um deles correspondente a um valor de X na proposição “a ciência é neutra porque X”. O segundo objetivo e discutir, para cada um dos sentidos, se de acordo com ele a ciência é ou não neutra. O resultado da discussão é o de que em três dos sentidos a ciência é, de fato, neutra; nos outros dois não. O terceiro objetivo é investigar as implicações da tese da não-neutralidade, particularmente tal como defendida pela CTS, no contexto da pós-verdade e da epidemia de fake news. A conclusão a que se chega é a de que a defesa da tese contribui para a disseminação da atitude da pós-verdade e a proliferação de fake news.