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Trata-se de pensar o argumento do criador do conhecimento em Nietzsche. Para tanto, inicialmente apresento o citado argumento. Em seguida, identifico-o – direta ou indiretamente –, em um conjunto de passagens dispersas em sua obra. Estando ciente de que tais passagens pertencem a contextos específicos e não-redutíveis uns aos outros, proponho unificá-las metodologicamente, interpretando-as a partir da relação entre linguagem e representação. Tal escolha se deve à conjectura de que a relação entre linguagem e representação é uma via de acesso privilegiada para esclarecer o que Nietzsche tem a nos dizer sobre o conhecimento, bem como justificar porque o conhecimento é e deve ser criador.
O argumento do criador do conhecimento consiste na tese de que do real somente podemos efetivamente conhecer aquilo que nós mesmos criamos. Para Vico, que supostamente fora o primeiro a formular de maneira explícita o argumento, isso significava a superioridade das ciências humanas frente às ciências naturais. Uma vez que a natureza não é nossa criação, às ciências naturais cabe apenas um saber aproximado e hipotético. O mesmo não ocorreria com as ciências humanas, cujo objeto, fruto de convenções e acordos institucionais, poderia ser conhecido em sua plenitude.1
Essa avaliação pressupõe (a) diferença e assimetria entre os objetos tais como se apresentam a nós e como eles são em si mesmos e (b) diferença e assimetria interna entre os objetos tais como eles se apresentam a nós. Recobrimos a realidade com nossas representações e apenas assim a conhecemos, sendo portanto incognoscível o que não pode ser representável. Daquilo que se torna objeto de conhecimento, alguns são lançados à realidade a partir de nossas representações enquanto outros são apreendidos por elas. Os objetos que são apreendidos pelas representações, por serem delas distintos, não se esgotam no representável; aqueles que compartilham da mesma natureza das representações – isto é, são também criações conceituais –podem ser plenamente conhecidos. Daí porque o conhecimento dos fenômenos naturais, apenas apreensível por nossas representações, é um saber aproximado e hipotético, enquanto o conhecimento dos fenômenos sociais, que compartilha do mesmo estatuto de nossas representações, pode ser completo
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