Respostas
Explicação:
Mais especificamente, resistência negra, por sua vez, tem na mulher negra uma figura pouco conhecida e estudada. Vejamos um exemplo. Ainda que no debate historiográfico a ideia segundo a qual a escravidão tenha destruído por completo a família negra, defendida de maneira acabada pela primeira vez por Franklin Frazier na década de 1930, tenha perdido espaço dentro do debate historiográfico nos últimos 30 anos, as importantes contribuições sobre a relação entre a mulher escravizada, família e o lugar de laços afetivos na escravidão atestam o quanto ainda há por ser discutido [4].
O pouco conhecimento sobre a mulher escravizada contrasta com sua importância no processo de produção de riquezas durante a escravidão e, ao mesmo tempo, dificulta o entendimento das particularidades opressivas às quais as mulheres negras se encontravam submetidas. As mulheres escravizadas sofriam as mesmas punições que homens escravizados. Desse ponto de vista, a imposição do trabalho escravo nivelou homens e mulheres negros; o trabalho não constituía esfera restrita ao homem. Porém, por serem mulheres, as negras escravizadas “eram inerentemente vulneráveis a todas as formas de coerção sexual”. Não se tratava de capricho ou “vontade” dos senhores, somente. Segundo Davis, “O estupro, na verdade, era uma expressão ostensiva do domínio econômico do proprietário e do controle do feitor sobre as mulheres negras na condição de trabalhadoras”5. A opressão sistemática às mulheres, que têm no estupro talvez sua expressão mais forte, era condição necessária para a garantia da ordem que regia a escravidão. Não se trata de uma discussão sobre o passado. Somente os mais reacionários e cegos são capazes de negar que a escravidão tem um impacto profundo na vida de todos os negros após a abolição e até hoje.