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O esporte no mundo globalizado tem ganhado significativa importância para as políticas governamentais como elemento dispersador de manifestações populares contra as condições indignas de vida, como artifício para legitimar governos autoritários ou ainda para desviar a atenção de escândalos e problemas estruturais. No entanto, a crítica ao paradigma esportiva é marcada pelo fato de que a instituição esportiva, se organizou em torno do capitalismo industrial e ainda utiliza-se do esporte como aparelho ideológico do Estado, na tentativa de consolidar a ideologia burguesa.
Diante disso, Alexandre Fernandez Vaz faz um comentário da origem de tais críticas sobre o esporte na sociedade contemporânea:
[...] tem origem na constatação de que seria ele, com suas técnicas e regras, uma forma de domínio do corpo e de suas expressões, que por sua vez, estaria relacionado com o predomínio da ordem econômica-social capitalista (2001, p.88).
É importante ressaltar, que o esporte na sociedade capitalista assumiu um caráter ideológico e interesseiro na busca do rendimento financeiro pautado, entre outros aspectos, no consumo de roupas esportivas, na criação de complexos multinacionais esportivos e na exploração da imagem televisiva. Esses complexos patrocinam eventos esportivos com a intenção de elevar suas vendas e expandir seu capital, levando ao público consumidor o fetichismo da marca. A comercialização do espetáculo esportivo comprova que o objetivo do esporte de competição é o lucro, porque os organizadores e promotores se interessam, sobretudo pela rentabilidade econômica (PRONI, 2002).
Ante aos problemas supracitados, alguns estudiosos se destacaram na procura de explicar o fenômeno esportivo de forma crítica. Nesse contexto, surge a partir da década de 60 do século XX um movimento teórico nas Ciências Sociais, que ficou conhecido como Teoria Crítica do Esporte, que tomou o esporte como tema de pesquisa, enfatizando em suas críticas a relação desse fenômeno com a cultura, economia e política. Deste modo, a Teoria Crítica do Esporte procurou mostrar a relação conceitual entre o esporte e o trabalho, reforçando o seu caráter de mercadoria, de refinador e disseminador da ideologia capitalista (VAZ, 2001).
Em linhas gerais, Valter Bracht, faz uma sistematização das teses que regem a Teoria Crítica do Esporte, destacando-se as teses da coisificação e da alienação defendidas pelo filósofo Theodor Adorno:
[...] Tese da coisificação ou alienação. Essa tese resumidamente propõe que a sociedade e os homens não são aquilo que em função de suas possibilidades e sua natureza poderam ser. Isso transparece nas sociedades industriais principalmente no mundo do trabalho. Como causa, temos um tipo de pensamento que se efetiva na razão instrumental ou racionalidade técnica. Isto é, as relações sociais em seu conjunto são norteadas por uma razão instrumental, coisificando-as (BRACHT, 2003, p.28).
Nessa mesma linha de argumentação, a obra de Herbert Marcuse também foi utilizada pelos intelectuais da Teoria Crítica do Esporte, especialmente a reflexão a respeito da repressão e da manipulação exercidas pelo sistema capitalista industrial:
[...] De acordo com essa tese, a sociedade moderna altamente tecnologizada, industrializada e desenvolvida, representa um sistema de repressão, dominação e manipulação (BRACHT, 2003, p.29).
A principal crítica de Marcuse consiste no fato de que a sociedade capitalista impôs um grau de repressão exacerbado, totalmente desnecessário. Dessa forma, o domínio do principio de rendimento sobre o corpo e a alma tornou-se instrumento de incremento da capacidade do trabalho alienado (BRACHT, 2003).
Nos estudos de Vaz (2001; 2005), o mesmo relata a contribuição de Bero Rigauer e Jean-Marie Brohm para a Teoria Crítica do Esporte. Dessa maneira, a tese central de Rigauer (1969), consiste no fato que o esporte não é um sistema à parte, mas de diversas formas interligado com o desenvolvimento social, cuja origem está na sociedade burguesa e capitalista.
Assim, o esporte moderno capitalista, está presente no nosso cotidiano, e assim suas marcas estão cada vez mais enraizadas em outros segmentos da vida social. Vale lembrar a afirmação de Rigauer sobre essa temática:
Embora constitua um espaço específico de ação social, o esporte permanece em interdependência com a totalidade do processo social, que impregna com suas marcas fundamentais: disciplina, autoridade, competição, rendimento, racionalidade instrumental, organização administrativa, burocratização, apenas para citar alguns elementos (1969, p.7)