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No Brasil colonial, quilombos eram locais de refúgio para os escravos fugitivos dos extensos latifúndios. Representavam a segregação máxima da sociedade excludente e patriarcal. Com a abolição, coube aos estrangeiros substituírem o trabalho escravo pelo assalariado, ficando os libertos à mercê da pobreza e ainda acorrentados à exclusão social. Essa situação acentuou-se ao longo do desenvolvimento do país, quando a urbanização desmedida concentrou a miséria em zonas periféricas da sociedade, abrigando não só negros, mas também a população rural pobre: os cortiços, ou favelas.
Porém as favelas cresceram a tal ponto que sua voz não pode mais ser abafada pelas políticas governamentais. Em pleno século XXI, favelas convivem com prédios e mansões da elite. A expansão da troca de culturas e o aumento do poder de compra e da voz política dos moradores da favela demonstram que o espaço urbano quebrou barreiras, não só físicas, mas também sociais.
Contudo, é utopia acreditar que a segregação social desapareceu. O apartheid das cidades ainda persiste, seja no descaso de políticas públicas, ou na crença forte da inferioridade da cultura da favela. Uma análise profunda revela que os valores da elite estão permeados de preconceitos deterministas que apontam os 'moradores do morro' como responsáveis pela violência, pela poluição urbana e pelos maus costumes.
A espetacularização dos meios de comunicação revelam apenas o glamour das 'cidades dos homens', em uma ínfima tentativa de passar para o resto da população brasileira o ideal da favela que preserva suas próprias crenças, auto-sustentável e que sobrevive mesmo com as adversidades. Na realidade, é um pedido de socorro dos moradores por melhores condições, para que suas opiniões sejam consideradas e suas frágeis culturas, respeitadas.
Desmantelar as barreiras sociais vigentes e promover uma integração eficaz das favelas com as cidades urbanas só será viável quando a cidadania subir o morro. O desafio é promover o acesso à educação, segurança, infra-estrutura e fim da exclusão aos 'quilombos modernos'. Sem direitos respeitados, os moradores não são cidadãos. Pois, se não são cidadãos, não são 'habitantes da cidade'.