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Desde a infância, por meio das relações que estabelece com o mundo e com os outros, o ser humano constrói sua identidade: a partir do grupo social a que pertence, do contexto familiar, das experiências individuais, de acordo com os valores, idéias e normas que organizam sua visão de mundo. É na relação com os outros que a identidade se desenvolve, pois não há um “eu” ou um “nós” senão frente ao outro – jogo de papéis sociais e suas representações. Ninguém pode construir sua identidade independentemente das relações estabelecidas com os outros e da representação que os outros possuem a seu respeito. Para cada um construir em sua singularidade, é fundamental a visão que os outros têm de sua pessoa.
Na pós-modernidade, cada vez mais a singularidade de cada indivíduo aparece como um valor e a construção da identidade se apresenta, então, como um processo que envolve a ação do próprio indivíduo. Cada indivíduo dispõe hoje de uma gama bastante ampla de informações – ainda que de qualidades muito diversas – que apresentam diferentes modos de ser, diferentes modos de viver. Mesmo o ser homem ou mulher – dimensão básica de constituição da identidade – é objeto de diferentes representações, diferentes modelos que se apresentam. Por meio da intensificação da velocidade das informações, os componentes da sociedade entram em contato e interagem de alguma forma, simultaneamente, com as dimensões locais e globais, que se determinam mutuamente, mesclando singularidades e universalidades, interferindo diretamente nos processos de identificação.
São as referências sócio-culturais, locais e globais, o campo de escolhas que se apresenta ao indivíduo e, dessa forma, amplia-se a esfera da liberdade pessoal e o exercício da decisão voluntária. A resposta às perguntas “quem sou eu”, “com quem me reconheço” e “de quem me diferencia” não está dada: ela deve ser construída. A identidade é vivenciada, assim, como uma ação, e não tanto como uma situação; é o indivíduo que constrói a sua consistência e seu reconhecimento, no interior dos limites postos pelo ambiente e pelas relações sociais. É uma interação social na qual o indivíduo não se sente ligado aos outros apenas pelo fato de existir interesses comuns, mas, sobretudo, porque esta é a condição para que possa reconhecer o sentido do que faz, e se afirmar como sujeito de suas ações.
Vive-se uma época de constantes rupturas e questionamentos acerca do tema identidade, bem como as formas e artimanhas que esta utiliza para se fazer representar. No Brasil e em outros países subdesenvolvidos, tais inquietudes assumem proporções extraordinárias, na medida em que a identidade nacional só produz símbolos a partir do olhar estrangeiro, um olhar que, ao observar, impregna o objeto visto com juízo de valores preconcebidos; tal olhar obviamente joga com forças de poder hierarquizante da sociedade capitalista, a construir um ideário de identidade que, apesar de possuir elos com outras identidades, prefere fechar-se num narcisismo exacerbado.
A questão da identidade fora de si, e em si, e no outro é extensamente discutida nas ciências sociais. Noções de exclusão e discriminação social nascem justamente da incapacidade de se ver – auto-imagem – ou enxergar no outro a sua imagem e a sua cultura, com seus referenciais múltiplos e diferentes dos ideais legitimadores da identidade a ser cegamente copiada.
Quando surge a discussão em torno da identidade marginal, faz-se necessário trazer à tona, a idéia de alteridade, ou seja, o sentimento que o “eu” tem em relação ao outro e vice-versa. Tal noção implica uma espécie de jogo, em que a necessidade do eu – branco burguês – negar o outro – negro suburbano – torna-se verdadeira, traçada pelas vozes e ações de vários, que buscam imperar como superiores.
A ruptura, neste sentido, já ocorre. Ela encontra-se no questionamento da apropriação do outro, tendo reflexos sobre o mecanismo de ideologia dominante, e o maniqueísmo por ele adotado, a manipulação constante do poder e a aplicação do fator desacreditado na cultura do outro. não basta compreender o discurso dominante, é necessário analisar a representação e o objeto representado, os símbolos que ele apresenta, seus significantes e significados.
É válido assinalar que o termo marginal, neste contexto, significa aquele que está à margem da sociedade, o excluído.
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