Leia a seguir um fragmento de Amor de Perdição (1862), de Camilo Castelo Branco, um dos exemplares mais representativos do Ultrarromantismo português. Ao romper d’alva dum domingo de junho de 1803, foi Teresa chamada para ir com seu pai à primeira mis- sa da igreja paroquial. Vestiu-se a menina, assustada, e encontrou o velho na antecâmara a recebê-la com muito agrado, perguntando-lhe se ela se erguia de bons humores para dar ao autor de seus dias um resto de velhice feliz. O silêncio de Teresa era interrogador. − Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltasar, minha filha. É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pai. Logo que deres este passo difícil, conhe- cerás que a tua felicidade é daquelas que precisam ser impostas pela violência. Mas repara, minha querida filha, que a violência dum pai é sempre amor. Amor tem sido a minha condescendência e brandura para contigo. Outro teria subjugado a tua desobediência com maus-tratos, com os rigores do convento, e talvez com o desfalque do teu grande patrimônio. Eu, não. Esperei que o tempo te aclarasse o juízo, e felicito-me de te julgar desassom- brada do diabólico prestígio do maldito que acordou o teu inocente coração. Não te consultei outra vez sobre este casamento, por temer que a reflexão fizesse mal ao zelo de boa filha com que tu vais abraçar teu pai, e agradecer- -lhe a prudência com que ele respeitou o teu gênio, ve- lando sempre a honra de te encontrar digna do seu amor. Teresa não desfitou os olhos do pai; mas tão abs- traída estava que escassamente lhe ouviu as primeiras palavras, e nada das últimas. − Não me respondes, Teresa?! − tornou Tadeu, to- mando-lhe cariciosamente as mãos. − Que hei de eu responder-lhe, meu pai? − balbuciou ela. − Dá-me o que te peço? Enches de contentamento os poucos dias que me restam? − E será o pai feliz com o meu sacrifício? − Não digas sacrifício, Teresa... Amanhã a estas horas verás que transfiguração se fez na tua alma. Teu primo é um composto de todas as virtudes; nem a qua- lidade de ser um gentil moço lhe falta, como se a rique- za, a ciência e as virtudes não bastassem a formar um marido excelente. − E ele quer-me. Depois de eu me ter negado? − disse ela com amargura. − Se ele está apaixonado, filha!... e tem bastante confiança em si para crer que tu hás de amá-lo muito!... − E não será mais certo odiá-lo eu sempre?! Eu agora mesmo o abomino como nunca pensei que se pudesse abominar! Meu pai... − continuou ela, choran- do, com as mãos erguidas − mate-me; mas não me force a casar com meu primo! É escusada a violência, porque eu não caso! Tadeu mudou de aspecto, e disse irado: − Hás de casar! −Quero que cases! Quero!... Quando não, amaldiçoada serás para sempre, Teresa! Morrerás num convento! Esta casa irá para teu primo! Nenhum in- fame há de aqui pôr pé nas alcatifas de meus avós. Se és uma alma vil, não me pertences, não és minha filha, não podes herdar apelidos honrosos, que foram pela primei- ra vez insultados pelo pai desse miserável que tu amas! Maldita sejas! Entra nesse quarto, e espera que daí te arranquem para outro, onde não verás um raio de Sol. Assinale a alternativa que identifica corretamente ele- mentos românticos presentes no texto em questão. a Autoridade machista paterna; o casamento arran- jado; deserdação de filho/filha. B Autoridade paterna; o casamento por amor; degredo de filho/filha. c Autoridade machista paterna; o casamento volun- tário; desejo de morrer de filho/filha. D Permissividade feminista paterna; o casamento ar- ranjado; deserdação de filho/filha. e Permissividade paterna; o casamento por amor; desejo de morrer de filho/filha.
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letra a.
É bem evidente, no texto acima, a presença de elementos que podem ser facilmente relacionados com uma grande autoridade paterna e machista, relacionada com a ideia de que a mulher deve sempre estar aos cuidados de uma figura masculina, ora paterna no início da vida, ora do marido, na fase mais adulta.
Ademais, nota-se que o silêncio de Teresa diante de tal situação constrangedora pode representar uma certa rebelião aos olhos do pai, sendo sujeita à possível exclusão familiar.
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