O músico nigeriano Feia Anikulapo Kuti (1938-1997), de etnia iorubá, foi o precursor do estilo musical afrobeat e um ativista político no processo de emancipação dos povos africanos. Leia o texto a seguir, que narra alguns episódios da sua vida. [...] Poucos artistas levaram tão a sério a proposta de música de protesto [quanto o nigeriano Feia Kuti]. Cada disco, cada verso, cada acorde cutucava uma ferida específica em um sem-número de fraturas expostas sem disfarce por um sistema de governo autoritário. Pedra no sapato alheio, Feia foi pisoteado pelo regime ao longo de toda carreira. Tanto apanhou e resistiu que, em 1975, acrescentou ao seu nome a expressão Anikulapo — "aquele que guarda a morte no próprio bolso". Feia Anikulapo Kuti incomodava. O presidente da Nigéria militar entre 1976 e 79, Olusegun Obasanjo, não aceitava tanta crítica e o choque entre as duas partes se arrastou por anos e culminou na tragédia de 18 de fevereiro de 1977. Naquele dia, aproximadamente mil soldados invadiram a residência de Feia — denominada República Kalakuta, um território declarado pelo músico como independente da ordem do resto do país — e tocaram, literalmente, o terror. [...] Obasanjo voltou ao poder da Nigéria em 1999, na primeira elei ção para presidente do país em 16 anos — e lá [permaneceu até 2007.] O ataque à Kalakuta aconteceu depois de uma apresentação de Feia Kuti e sua banda Afrika 70 no Festac — Festival de Arte e Cultura Negra. O ódio dos militares veio à tona depois da apresentação da música Zombie, uma sátira escancarada à obediência cega e robótica dos soldados ao regime. [...] A música estava entre os maiores sucessos de Feia no período e sua execução ao vivo era certeza de retaliação militar. [...] Apesar de tantos machucados, Feia tinha uma excepcional capacidade regenerativa que o fazia retornar ao combate sempre que fosse preciso. No final dos anos 70, o músico fundou seu próprio partido político (M o vem en t o f th e People) e lançou uma campanha para se tornar presidente da Nigéria em 1979, mas sua candidatura foi recusada. Na década seguinte, formou a banda Egypt 80, com a qual gravou diversos discos e continuou enfurecendo os governantes com seus relatos de abuso. O auge da denúncia fica explícito ao final de International Thief Thief, quando Feia cita os nomes do presidente Olusegun Obasanjo e do vice, Moshood Abiola, com todas as letras. Em 1983, Feia concorreu à presidência novamente, mas desta vez foi detido e levado à prisão, onde permaneceu por 20 meses. Depois de solto, a frequência com que lançava discos diminuiu em medida inversamente proporcional à ascensão da ditadura no país. [...] No dia 3 de agosto de 1997 seu irmão mais velho chocou a nação com a notícia de que Feia Kuti havia morrido, de Aids, no dia anterior. Mais de um milhão de pessoas compareceram ao funeral do artista em seu antigo clube Shrine — hoje administrado por seu filho e também músico, Femi Kuti — e, 10 anos depois, os admiradores continuam visitando o local onde seu corpo está enterrado, sob um pedestal de mármore na República Kalakuta. (ZW E TS C H . R am iro; N O G UEIRA. Lígia. C o m a m o rte n o b olso. D isponível em : < w w w .ra d io la u rb a n a .co m .b r/co m -a -m o rte - n o -b o ls o >. A ce sso em : 22 jan. 2016. Feia Kuti. F o to g ra fia tira d a em 1970). a) Qual foi o efeito político provocado pelas músicas de protesto de Feia Kuti? b) Descreva a trajetória de Feia Kuti como ativista político e a repressão que ele sofreu.
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a. O efeito político gerado pelas canções de Feia estavam relacionadas com o processo de questionamento da realidade vivenciada diante de ações autoritárias do governo vigente.
b. Feia Kuti iniciou sua trajetória por intermédio de suas composições e apresentação das canções. E por isso, passou por grande repressão, sendo presa, humilhada, mas sempre retirando forças para voltar a lutar contra ações truculentas do governo.
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