• Matéria: Português
  • Autor: RobsonStanieski
  • Perguntado 7 anos atrás

Uma redação sobre preconceito linguístico​

Respostas

respondido por: monicksilvera
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Resposta:O preconceito linguístico é praticado com base nas diferenças linguísticas que existem dentro de um mesmo idioma. No Brasil, especificamente, não se trata de um assunto novo, mas que se baseia sobretudo em uma língua padrão, próxima àquela falada no centro-sul do país, utilizada como motivação para o desrespeito às outras formas de falar. Desse modo, a parte da sociedade que foge a esse padrão considerado aceitável sofre represálias e exclusão, sendo tida como menos capaz apenas por conta das variedades linguísticas não consideradas. Por isso, é imprescindível debater e buscar minimizar os efeitos do problema.

Mundialmente, o Brasil é considerado um país miscigenado e de cultura ampla. Devido a isso, não é raro encontrar, dentro da sociedade brasileira, diversas manifestações artísticas, de expressão e, também, linguísticas. As variantes faladas no Nordeste, por exemplo, divergem das faladas no Sul, contribuindo para a riqueza de um idioma. No entanto, há resistência de parte da população em aceitá-las, refletida na criação de um estereótipo de nordestino analfabeto ou inferior, cuja fala é considerada errada e, por isso, é tido como incapaz. Esse tipo de preconceito acaba constrangendo e excluindo regionalmente populações inteiras, alimentando uma intolerância que beira a xenofobia e contrariando, assim, o Artigo 3 da Constituição de 1988, que garante liberdade de todos, independentemente de raça, cor, etnia, gênero, religião e região.

Ademais, a estereotipação que produz o preconceito linguístico se estende a quem possui baixa escolaridade. A crise educacional brasileira não é mistério, por isso há indivíduos que têm dificuldade de acesso às escolas. Essa deficiência educacional é utilizada muitas vezes por outros cidadãos e pela mídia para criar um imaginário de fala errada e fala de quem é pobre. A exemplo, a personagem Adelaide, do programa humorístico Zorra Total, é tratada comicamente como uma negra, de aparência grotesca e que fala tudo de forma errada com relação à norma padrão. Questões assim são uma arma de segregação porque facilitam a assimilação populacional de que indivíduos na mesma condição que Adelaide são inferiores e devem se envergonhar da forma como falam apenas por ser uma maneira pouco convencional dentro do padrão aceito.

Logo, para evitar maiores danos à liberdade de fala dos brasileiros, medidas precisam ser tomadas. O Ministério da Educação deve, por meio de prévia modificação dos conteúdos escolares nacionais, incentivar o debate direcionado acerca das variantes linguísticas nas aulas administradas por professores de português a fim de garantir que o caráter cômico de falas tidas como diferentes seja desconstruído na mente dos alunos. Além disso, o Poder Legislativo deve, através da votação de uma Lei no Congresso Nacional, proibir a veiculação de programas humorísticos que retratem com preconceito figuras nacionais estereotipadas, com o objetivo de extinguir o preconceito linguístico propagado em rede nacional.

Tema da redação

O preconceito linguístico

respondido por: Eduardasilvxx
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Em "Jeca Tatu", obra de Monteiro Lobato, o protagonista que dá nome ao livro é uma construção caricata do homem campesino, representação do atraso que convencionou-se associar ao falar caipira. Nesse sentido, é perceptível, ainda na atualidade, a difusão de tais estereótipos pejorativos, os quais devem ser desestruturados, para que, superando a exclusão ocasionada pelo desconhecimento, haja respeito quanto ao falar diverso do povo brasileiro.

Em primeiro lugar, convém analisar a importância do campo linguístico, a fim de que se percebam as incoerências e mazelas da exclusão. De acordo com o psicólogo e pesquisador Vygotsky, a linguagem é o fator que concede ao homem a possibilidade de compreender e interpretar o mundo ao seu redor. Nessa perspectiva, privar indivíduos da expressão pessoal, baseado somente em uma visão purista da língua, é lhes cercear a criticidade e a própria manifestação de suas particularidades.

Ademais, cabe destacar o caráter cultural do falar, sobre o qual há desconhecimento e pouco interesse, elementos que fomentam as atitudes discriminatórias. Consoante ao filósofo e linguista Saussure, a fala não pode ser entendida como estática ou única, uma vez que é ela um ente vivo, transformado constantemente pelas interações sociais. Nesse ínterim, a esfera de valores e formações distintas peculiares ao Brasil torna, também, nossa língua móbil e diversa, condição enriquecedora que, oposto ao que se vê hodiernamente, deve ser valorizada.

Torna-se evidente, portanto, a relevância de coibir as tendências discriminatórias relativas às diferenças linguísticas. Cabe às universidades e escolas, enquanto formadoras cidadãs, promover e expandir tais discussões. Para tanto, devem ser realizados, no currículo da disciplina de Língua Portuguesa, planejamentos voltados para o estudo mais aprofundado da variabilidade linguística. Outrossim, na seara social, a Antropologia pode colaborar com explicações e debates acerca da notável formação cultural brasileira e a importância de suas variantes para nossa identidade. Nesse ínterim, podem ser realizadas oficinas de leitura e encenação de manifestações artísticas regionais, que demonstrem o valor do diferente. Dessarte, será tangível, pelo saber, dissipar os pressupostos arraigados que segregam e rotulam inúmeros "Jecas" na atualidade.

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