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Nuno Ramos não podia ter inaugurado sua exposição Morte das Casas em dia mais adequado. No sábado 22, enquanto a chuva inundava São Paulo, uma cascata de 20 metros de altura desabava do teto do vão central do Centro Cultural Banco do Brasil. Em meio a tanta água, dentro e fora do edifício, um coro declamava o poema “Morte das Casas de Ouro Preto”, de Carlos Drummond de Andrade. Com forte apelo sonoro e visual, essa obra é apenas o primeiro grande impacto da nova mostra individual do artista plástico paulistano Nuno Ramos, que lançou-se nos anos 80 com o grupo de pintores Casa 7, e projetou-se internacionalmente nos anos 90, com a instalação “111”, sobre a chacina do Carandiru.
Nuno Ramos é um artista com um olhar social, que tem como matéria de trabalho não só o mármore, o granito, a terra e o breu, mas também o abandono, a violência e a morte. Esta exposição, formada de instalações, esculturas e vídeos, é uma metáfora contundente do trágico estado de deriva em que se encontra a imensa maioria da sociedade brasileira. Em seu discurso, o artista consegue ser ao mesmo tempo violento e lírico. Seu trabalho atua como um soco no estômago do espectador – que, indignado, chega a vociferar diante do vídeo “Alvorada” ou é transportado para um estado de luto diante da série de três esculturas “Choro Negro”. Mas Nuno Ramos parece, afinal, querer atingir a redenção, quando reproduz com a força das águas a potência da natureza. Chuva de canivete