Leia o soneto de Raimundo Correia.
A cavalgada
A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...
E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...
E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...
CORREIA, Raimundo. In: RAMOS, Péricles E. da Silva
(Org.) Panorama da poesia brasileira: vol. II Parnasianismo.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959, p. 84.
O poema descreve a passagem de uma cavalgada de fidalgos caçadores. Podemos perceber dois movimentos.
a) Entre quais versos se dá a passagem do primeiro para o segundo movimento?
b) Explique a progressão do primeiro movimento até o ponto culminante.
c) Explique a progressão do segundo movimento.
d) Compare o primeiro com o último verso e explique o efeito pretendido pelo poeta com essa abertura e esse fechamento do poema.
Respostas
Resposta:
a) A passagem do primeiro para o segundo movimento se dá na quarta estrofe, entre os versos 10 e 11. Até o verso 10 temos a aproximação da cavalgada; no verso 11, o distanciamento.
b) Ao longo dos 10 primeiros versos, a descrição pontua as modificações do ambiente pelo lento avanço da cavalgada. Na primeira estrofe, o silêncio, o som inicialmente indistinto e suave, a identificação do som como um galopar de cavalos; na segunda, as vozes dos caçadores já são nítidas (risos e cantos), misturados ao soar das trompas (trombetas primitivas usadas na caça); na terceira estrofe a cavalgada já está bem próxima do observador que faz a descrição, e o barulho e a agitação chegam ao ponto culminante, estremecendo o bosque.
c) O segundo movimento é descrito rapidamente, sem a lenta progressão do primeiro: em apenas um verso a cavalga se distancia e desaparece. A última estrofe retoma a situação inicial de imobilidade e silêncio da paisagem.
d) O último verso repete o primeiro, com modificação apenas na ordem das palavras. Essa repetição representa, por si mesma, a imobilidade da paisagem, como se colocasse entre parênteses o breve momento de agitação com a passagem da cavalgada. No primeiro verso, a solidão da estrada banhada pela lua; no último, o retorno da mesma situação. A alteração da ordem das palavras representa o movimento inverso de retorno à calmaria.