Diálogo de todo dia
-Alô, quem fala? -Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala. -Mas eu preciso saber com quem estou falando. -E eu preciso saber antes a quem estou respondendo. -Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala? -Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo. -Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho. -Ah, sim. No aparelho não está ninguém. -Como não está, se você está me respondendo? -Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém. -Engraçadinho. Então, quem está fora do aparelho? -Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo. -Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando. -Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro. -Se eu conhecesse não estava perguntando. -Você é muito perguntador. Pois se fui eu que telefonei. -Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas. -Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou. -Estou respondendo. -Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala? -Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um desconhecido? -Bolas! -Bolas digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar? ...Silêncio. -Vamos, diga: com quem deseja falar? -Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau! -
-Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau! Nossas Palavras/Carlos Drummond de Andrade; Diálogo de todo dia, Coleção Literatura em Minha Casa. 8ª série.
Crônica e Contos; v.2,Rio de Janeiro, 2003. Item 2: O termo “Bolas!” (I.24), neste contexto, sugere:
a( ) gentileza b ( ) curiosidade c( ) irritado d ( ) surpresa
Respostas
Resposta:
c) Irritado
Explicação:
Com as várias insistências o personagem ficou com raiva
Resposta:
1. O assunto do texto é sobre a conversa entre duas pessoas para entender quem foi a pessoa que ligou, e quem foi a pessoa que recebeu a ligação.
B. O telefone não ajudou as pessoas, porque a todo momento eles queriam saber a identidade um do outro e isso causa uma irritação em ambos.
C. O elemento que representa o problema da comunicação é "quem fala", pois ao utilizar essa expressão, o emissor deu brecha para o receptor apresentar a resposta "ninguém, quem fala é quem ta perguntando
D.. A palavra obséquio poderia ter sido trocada por "por favor".
E. . As marcas de oralidade ficam presentes em "Alô", "Mas eu preciso saber com quem estou falando", etc.
F. É comum a marca de oralidade porque é um diálogo pelo telefone.
G. A linguagem empregada na crônica de Carlos Drummond de Andrade é adequada ao texto pois fala sobre o diálogo do dia a dia. Por isso é utilizado a linguagem coloquial.
O uso de obséquio é incorreto, pois o diálogo todo é informal e a palavra faz parte da linguagem formal.