Alguém poderia me explicar como funcionava a "política dos bilhetinhos" de Jânio Quadros (1961)?
Respostas
Jânio Quadros ocupa um lugar muito especial no universo de políticos brasileiros.
Prefeito de São Paulo (1953-55 e 1986-89), governador do estado (1955-59) e
presidente da República (1961), caracterizava-se por se expressar em linguagem, ao
mesmo tempo, direta e rebuscada, por um visual desalinhado e, sobretudo, por um estilo
personalista de governar. Principal promessa na campanha vitoriosa que o levou à
prefeitura paulistana em 1953, a moralização administrativa tinha como pressuposto
básico a suspeição sobre o trabalho da burocracia, vista como corrupta e ineficiente,
incapaz, portanto, de compreender as “verdadeiras” demandas populares. Desprezando a
rotina burocrática ao despachar “bilhetinhos” para todas as instâncias administrativas,
supervisionando pessoalmente os órgãos públicos, não delegando poderes, Jânio
apostava na idéia de que o indivíduo deveria pairar acima das instituições democráticas.
A finalidade era firmar a imagem do político competente e capaz, cuja onipresença
vigilante garantia o cumprimento rápido e fiel de suas decisões. Por isso mesmo o
conteúdo das “papeletas” – como Jânio chamava – era muito variado, como mostra o
livro de J. Pereira, Bilhetinhos de Jânio (Editora Musa, 1959). Ia desde o puxão de
orelhas no secretário de Educação pela demora na tramitação burocrática, até o alerta
irônico para a Casa Militar sobre a sindicância que envolvia um policial apelidado de
“Elefante”: “Rigor com o bicho”. Nem mesmo a proposta de compra de uma onça para
o Jardim Zoológico de São Paulo escapou de sua observação ferina: “Não compro a
onça (...) não faltam onças neste país, como não faltam amigos desse bicho”. Como a
história demonstrou, quem se ocupa com a compra de onças não consegue governar o
país.