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Na coluna de Tomaz Amorim, Atilio Bergamini mostra, à luz do recente crime ambiental de Brumadinho, a presença das tragédias da mineração na poesia de Carlos Drummond de Andrade e nas reflexões de Davi Kopenawa
Por Tomaz Amorim Izabel
Atilio Bergamini*
A mineração no que viria a ser o Brasil ganhou forma no século XVIII com o assassinato, a expulsão, o sequestro e a escravização de povos originários. Foi erguida por um processo de escravidão brutal de povos africanos que gerou o que a historiadora Laura de Mello e Souza chamou de desclassificados do ouro. Tomando lugar por excelência nos “sertões”, a mineração está no nome de Minas Gerais. Não por nada os primeiros governos republicanos escolheram Tiradentes para ser um dos ícones do “novo” Brasil: as injustiças e tensões das minas despedaçaram o cadáver do inconfidente.
Como a mineração de ouro e diamante, a extração de minério de ferro atende a interesses do capitalismo internacional e sempre seguiu ritmos ligados a demandas e projetos estrangeiros. A Vale exporta minério de ferro para países dos cinco continentes, sobretudo para a China – que chega a comprar 50% do total produzido -, e está instalada na Indonésia, Moçambique, Omã, Filipinas e Argentina. A construção de uma grande empresa estatal entregue de mão beijada para ser uma das maiores mineradoras privadas do mundo não tornou a barbárie mais modesta do que foi nos séculos anteriores.
As antigas violências do processo de mineração seguem acontecendo, contra povos indígenas, contra os povos negros, contra os trabalhadores e os pequenos proprietários de terra. A essas violências outras novas vão se incorporando. Essa história mostra a relação estrutural entre mineração e violência no Brasil. É uma sequência de roubo legalizado de terras, genocídio, expulsão, exploração do trabalho e ecocídio.
Por não ser de hoje, o nexo violência-mineração se faz presente na cultura. Circula na internet um poema publicado por Drummond em 1984 sobre a Vale (o poeta morreria em 1987). Uma das estrofes diz assim:
“Entre estatais
E multinacionais,
Quanto ais!”
É notável que ele tenha disseminado no coração dos substantivos (estatais, multinacionais, ais) a mesma interjeição (ais!). Porém, até chegar a esses ais!, Drummond pensou sobre a mineração ao longo de toda a sua trajetória. Em “O maior trem do mundo”, o eu-lírico diz que o trem do título do poema