Segundo a citação de Maia e Pereira (2009, p. 7-8), retirada do livro Pensando com a Sociologia, “em seu famoso livro sobre as formas de fazer sociologia, Wright Mills utilizou a expressão ‘imaginação sociológica’. [...] essa imaginação poderia ser aprendida e exercida por qualquer pessoa educada que se mostrasse curiosa a respeito das relações entre biografia e história. Ou seja, a sociologia não seria simplesmente uma disciplina acadêmica ou uma ciência ultrassofisticada, mas uma forma de argumento público capaz de revelar as conexões entre as transformações na vida cotidiana e os processos mais amplos de mudança histórica”. Nas palavras de Wright Mills: “A ‘imaginação sociológica’ é um ato que permite ir além das experiências e das observações pessoais para compreender temas públicos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um fato pessoal inquestionavelmente difícil para o marido e para a esposa que se separam, bem como para os filhos. Entretanto, o uso da ‘imaginação sociológica’ permite compreender o divórcio não apenas como problema pessoal individual, mas também como uma preocupação social. O aumento da taxa de divórcio redefine uma instituição fundamental – a família”. Cabe salientar que a ‘imaginação sociológica’ não consistiria simplesmente em aumentar o grau de informação das pessoas, mas numa “[...] qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos” (MILLS, 1969, p. 11). A imaginação sociológica é uma forma crítica de pensar em sociologia, que nos permite conectar a nossa experiência vivida (e a experiência vivida dos outros) no contexto mais amplo das instituições sociológicas em que ocorre. A utilização da ‘imaginação sociológica’ se fundamenta na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na sociedade e no período no qual sua situação e seu ser se manifestam. Mills também sugere que “por meio da ‘imaginação sociológica’ os homens podem perceber o que está acontecendo no mundo e compreender o que acontece com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biografia e da história, na sociedade” (MILLS, 1969, p. 14).
(MAIA, João Marcelo Ehlert; PEREIRA, Luís Fernando Almeida. Pensando com a sociologia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.)
No fragmento de texto acima, o autor usa o divórcio para exemplificar de que forma as experiências individuais se conectam com as transformações sociais mais amplas. Com base nos conhecimentos sociológicos, caracterize a “imaginação sociológica”, discorrendo sobre os aspectos relevantes dessa perspectiva apontados no texto-base, e mencione e explique outro fato social para exemplificar o raciocínio da “imaginação sociológica”.
Respostas
Explicação:
Comte buscava unir uma teoria para se entender a sociedade com a possibilidade de aplicação
prática desta teoria ao mesmo tempo em que possuía preocupação com a formulação de leis
sociológicas. Ele considerava que a sociedade devia ser estudada usando procedimentos gerais
que estavam próximos dos que as demais ciências utilizavam para explicar o mundo natural. Ou
seja: rejeitar a Teologia (isto é, o recurso a vontades sobrenaturais como causas das ações
humanas) e recusar o que Comte chamava de metafísica para compreender a realidade. No lugar
destes, Comte afirmava que o conhecimento se dava através da Ciência, onde buscam-se as leis
naturais para explicar e predizer os fenômenos sociais, permitindo em seguida a intervenção
prática.