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Considerando o quão semelhante a biologia evolutiva é da ciência histórica e o quão diferente ela é da física [...] não é surpreendente que estipular uma linha definida entre as ciências naturais e as humanidades seja tão difícil, na verdade quase impossível. (Mayr, 2004, p.13)
Um longo e amplo debate tem sido travado entre filósofos da ciência a respeito do que é ciência (Mahner; Bunge, 1997; Mayr, 1982). Tal debate passa ao largo do interesse da maioria dos praticantes de ciência, e a impressão que se tem é a de que as pessoas (e não me refiro apenas ao público leigo) imaginam que ciência seja uma atividade facilmente definida e definível, algo ligado a análises laboratoriais, experiências controladas e testes formais de hipóteses, utilizando-se do famigerado método científico, tudo isso regido por leis. Creio que seja essa a visão por trás de afirmações pouco informadas do tipo “Arqueologia não é ciência porque não se pode testar hipóteses” ou “Arqueologia não é ciência porque o comportamento humano não é regido por leis”.
Até os anos 1970, a filosofia da ciência era dominada por físicos (Mayr, 1982; Sterelny, 2009; Wylie, 2002) e, portanto, é fácil entender porque a física era considerada o modelo de ciência a partir do qual as outras disciplinas seriam avaliadas.
Como a Física é uma disciplina experimental, fortemente apoiada em leis, e passível de ter suas hipóteses testadas de maneira formal, qualquer disciplina que não apresentasse essas características seria considerada automaticamente uma não ciência ou, na melhor das hipóteses, uma quase-ciência. Os modelos de descoberta científica eram a mecânica newtoniana ou as leis de Kepler, que permitem generalizações a partir de observações empíricas, além de predições. A partir do fim dos anos 1960, porém, esse modelo empiricista começou a ser atacado por pensadores como Karl Popper, Imré Lakatos, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, mas os exemplos continuavam a provir da Física (Sterelny, 2009, p.325). Kuhn (1970) e Feyerabend (2009) propuseram uma visão do conhecimento científico que não era cumulativa, mas descontínua; um corpo teórico seria normalmente suplantado por outro quando não conseguisse mais dar conta dos fenômenos a serem explicados. Isso pode realmente ser verdade na física, mas está longe de ser geral, e absolutamente não aconteceu na biologia, por exemplo (Godfrey-Smith, 2003; Sterelny, 2009). Daí o problema de se tomar a filosofia da ciência como algo prescritivo (Clarke, 1972; Dunnell, 1982). Em suma, não se pode esquecer de que não é papel da filosofia da ciência estipular o modo como as ciências deveriam ser, mas tentar explicar como elas funcionam. Logo começaram a aparecer problemas no modelo de “ciência-enquanto-física”, e o principal deles é que outros ramos respeitáveis do conhecimento não se encaixavam no modelo de ciência - por exemplo, a geologia e a biologia. Foi no âmbito da biologia que as críticas ao modelo de “ciência-enquanto-física” foram mais abundantes, gerando pelo lado dos biólogos frases como “a arrogância dos físicos”, e pelo lado dos físicos