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respondido por: nicollynunes5728
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Das três etnias que formaram o povo e a cultura brasileiros, sem dúvida alguma, a mais discriminada, segregada e até hoje não valorizada, é a indígena. Brancos e negros dividiam os mesmos espaços, viviam nas cidades ou nas fazendas, em situações desiguais e conflitantes, mas construíram juntos o arcabouço dessa grande nação tropical, “gigante pela própria natureza”, uma das maiores e mais ricas do mundo, mas também uma das mais violentas e injustas socialmente.

Na época da chegada dos portugueses, milhares de pessoas de diferentes raças, línguas e etnias viviam por aqui, uma população estimada cinco vezes superior à de Portugal, na época. Paulatinamente, eles foram sendo dizimados, não tanto pelas armas dos invasores, que não eram tantos assim, mas pelas doenças trazidas por eles.

Os jesuítas contribuíram para essa matança, quando arrebanhavam essas tribos que andavam dispersas pelas matas, aprisionando-as em reduções localizadas no litoral, como ocorreu aqui em Nova Almeida, Anchieta e Piúma, onde milhares morriam de gripe, de sarampo ou de varíola.No século XIX, com a vinda da família real para o Brasil, D. João VI decretou guerra aos “botocudos” que viviam nas últimas partes da Mata Atlântica do Espírito Santo, Zona da Mata mineira e Norte fluminense, e assim foram dizimados os guerreiros e capturados suas mulheres e filhas para serem escravas dos seus captores. Nós, capixabas, somos herdeiros desse passado “glorioso” e trazemos no sangue essa herança indígena, hoje diluída culturalmente no que somos, temos e fazemos.

Nasci na região do Caparaó, nas montanhas sagradas de Puris ou de tribos anteriores a eles que por ali viveram por milhares de anos, antes da chegada dos nossos antepassados que lhes usurparam a terra, a língua, a cultura, a vida. Era forte a presença indígena na região, quando lá nasci, há 60 anos.

Muito se ouvia falar em “minha avó foi pega a laço”, à boca miúda, com receio de denunciar o “pé na taba”. Não cheguei a conhecer nenhum nativo Puri, mas sei que minha bisavó foi uma dessas crianças “pega a laço”. O professor e historiador João Eurípedes, que é da mesma região que eu e um pouco mais velho, teve mais sorte. Contou-me ele que entre os “agregados” de sua família, vivia a índia “Felismina”, que lhe ensinou uma cantiga de sua tribo Puri e ele receava ser o último a guardar um bem tão precioso de uma cultura que viveu entre nós. Pedi-lhe que a cantasse e ele o fez, emocionado. Não sabe o que significa, mas sabe que precisa transcrevê-la, foneticamente, e registrar-lhe as notas musicais, antes que se perca. Apesar de todo seu conhecimento da história oficial da colonização portuguesa, senti nele a força do canto do “I-Juca Pirama”, o drama do que vai morrer e precisa ser lembrado pelas novas gerações.

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