As Pinturas de Retratos de Rei e Rainhas foi uma Pratica comum em Muitas Monarquias Europeias Na sua Leitura, que a Pratica de Construcão desses Retratos Significava Nesse Periodo?
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Introdução – A formação artística francesa e a chegada ao Brasil
Jean-Baptiste Debret é o primeiro pintor de história a realizar um conjunto de pinturas voltadas à representação da corte portuguesa no Rio de Janeiro. A obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, produzida por Debret e publicada em três volumes entre 1834 e 1839, em Paris, apresenta uma série de ilustrações correspondentes aos principais eventos ocorridos no reinado de D. João VI e império de D. Pedro I, além da construção de uma iconografia de caráter nacionalista, inteiramente nova, relativa ao Primeiro Império.
A análise minuciosa de algumas dessas imagens permite-nos compreender o discurso pictórico elaborado por Debret a partir de contextos políticos específicos. Suas aquarelas e pinturas, a maioria realizada entre 1816 e 1831 – anos, respectivamente, de sua chegada ao Brasil e de sua partida –, que mais tarde serão gravadas e inseridas em seu álbum, muitas vezes funcionam como uma composição narrativa que transmite uma mensagem histórica2. Em suas composições, Debret constrói a cena de maneira a transmitir a verossimilhança dos fatos, partindo sempre da escolha de determinados efeitos que funcionam como instrumentos de persuasão contidos na mensagem. Estes meios são inteiramente derivados de sua formação neoclássica, em Paris, com o pintor francês Jacques-Louis David.
É essencial ressaltarmos a relação direta que se estabelece entre sua formação como pintor de história em Paris – cuja relação com o mestre David é notória – e a composição de suas pinturas, cenografias e aquarelas, num contexto de vivência e aprendizado da sociedade brasileira ainda em fase de constituição. Sua formação francesa está intimamente ligada à produção brasileira, uma vez que a concepção artística derivada do neoclassicismo francês foi aqui retomada na construção iconográfica de temas relativos à sociedade e à política brasileiras3.
Debret trabalhara com David em Paris e também em Roma, quando da produção do célebre quadro O juramento dos Horácios, exposto no Salão parisiense de 1785. Criando a escola neoclássica – onde se destacavam pintores como François Gérard, Antoine-Jean Gros, Pierre-Narcisse Guérin e o próprio Debret (DELECLUZE, 1983) –, David levava adiante o exemplo grego a ser retomado. De volta à Paris, Debret se une a essa escola davidiana na realização de um corpus de pintura neoclássica destinada à exaltação política do período revolucionário, cujas telas tinham como modelo, num primeiro momento, a Antiguidade Clássica e, anos mais tarde, a exaltação ao gênio contemporâneo de Napoleão. Destacamos, entre suas principais obras, as telas Régulo voltando a Cartago, que obteve o prêmio de pintura de 1791, e Aristodemo liberto por uma moça, exposta no Salão de 1798. Nesses dois trabalhos, Debret ainda se concentrava nos modelos ideais da Antiguidade Clássica, exemplos de patriotismo e militarismo, que tão bem se associavam àquele momento político francês (BOIME, 1987; FRIEDLANDER, 2001). Anos mais tarde, Debret atualizou a mensagem histórica na exaltação a Napoleão. Suas telas A primeira distribuição da Legião de Honra pelo imperador na igreja dos Inválidos e Napoleão homenageia a coragem infeliz, obras expostas respectivamente nos Salões de 1806 e 1812, mostravam a atuação de Napoleão nas campanhas européias. Desta forma, procurava não mais através dos temas clássicos, mas por meio do viés contemporâneo, traduzir o momento histórico vivido. Os modelos gregos e romanos de outrora davam lugar aos fatos atuais, conservando seu caráter patriótico e glorioso.
Em 1815, com a queda de Napoleão e o início de um processo de emigração que se instalava na França em decorrência da Restauração dos Bourbons, além de alguns problemas pessoais resultantes da morte de um filho, Debret aproximou-se de Joachim Le Breton, na esperança de integrar o projeto de uma escola de artes e ofícios no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, Le Breton integrou-o como professor de pintura de história, ao lado do pintor de paisagem Nicolas-Antoine Taunay, então membro do Institut de France, e do arquiteto Grandjean de Montigny, entre outros4. Debret abandonava a Paris outrora revolucionária, cujo futuro se mostrava incerto aos artistas bonapartistas, e partia para a América portuguesa, para onde .