Como as teorias de Platão e Aristóteles se relacionam ao debate de Heráclito e Parmênides sobre a natureza da realidade
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A filosofia grega que sucede Heráclito e Parmênides acaba por vê-los como opostos um
ao outro. Heráclito seria o defensor de um mobilismo radical. Parmênides teria propugnado
um imobilismo radical. Esta oposição aparece claramente no diálogo platônico Sofista, no
qual o filósofo ateniense mostra a impossibilidade de reduzir o ser ao movimento (como
queriam, segundo Platão, os discípulos de Heráclito) ou ao repouso (como queriam os
eleatas). Na realidade, Platão apresenta a oposição entre Heráclito e Parmênides para poder
superá-la através de sua própria filosofia, algo que, como veremos abaixo, já fora tentado,
antes dele, por Empédocles, Anaxágoras e Demócrito.
Heráclito havia explicitado a necessidade de se conceber uma unidade na
multiplicidade, unidade que possuía diversos nomes e determinações e que permitia
entender não apenas a multiplicidade, mas que permitia supor uma medida para todas as
transformações. Parmênides estabelece o vocabulário do ser ou ente como base para toda a
filosofia posterior, determinando as características do ente como diversas daquelas dadas na
percepção. Na realidade, não podemos dizer que o pensamento sobre o ser, tal como
instituído por Parmênides, estivesse já presente nos seus antecessores. Isso dá uma mostra de
quão impactante para a filosofia grega foi a introdução dos conceitos de ser e ente e de uma
metodologia axiomática na filosofia.
No caso de Heráclito, seu estabelecimento do conceito de unidade na multiplicidade está
diretamente ligado aos pensadores anteriores, que já pensavam a natureza a partir do par
unidade-multiplicidade. A física dos primeiros jônios, a matemática e a física matematizada
de Pitágoras e seus primeiros discípulos, bem como a teologia de Xenófanes operavam
explicitamente com os conceitos de unidade e multiplicidade, mas ainda não os haviam
tematizado como viria a fazer Heráclito. Vemos, com esta breve narrativa histórica, que
Heráclito completa uma tradição já existente, mas que Parmênides institui e agrega a esta
tradição o vocabulário e os esquemas conceituais do ser (einai/emmenai) e do ente (on/eon).
Com Parmênides e posteriormente (de modo ainda parcial) com Platão e especialmente com
Aristóteles, a henologia (a teorização sobre a unidade e seus conceitos correlatos) acaba por
se tornar parte integrante da ontologia, pois as determinações henológicas (unidade,
inteireza, continuidade, indivisibilidade, identidade) não são mais agora determinações da
ordem total da natureza, mas determinações do ser ou ser.