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A obsessão pela ciência permeia várias personagens da obra machadiana, segundo constatou Mariella Augusta, doutora em literatura portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora dos contos de Machado de Assis (1839-1908) em seu mestrado. "Há muitos trechos nos quais Machado faz uma sátira do positivismo. Muitas personagens são obcecadas pela ciência – e elas são doentes", explica.
Essa característica, encontrada no conto-novela O alienista, permeia também seus romances e contos menos conhecidos, a exemplo do Ideias do canário, no qual o escritor põe em cheque a "verdade", no sentido filosófico, difundida pela ciência: "o protagonista [um ornitologista], ao encontrar um canário que fala, começa a estudar todos os pássaros. Ele quer do canário uma resposta sobre o que é a vida – e o canário debocha do estudioso. Machado de Assis é cético no sentido de não admitir uma única verdade, como quer a ciência positivista", compara.
Em 2010, dois anos após o centenário da morte do escritor, a historiadora Daniela Magalhães da Silveira publicou sua tese de doutorado "Fábrica de contos: ciência e literatura" em Machado de Assis, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde investigou o processo de escrita de seus contos e como eles dialogavam com os principais debates científicos e filosóficos da segunda metade do século XIX.