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Um estudioso de história das religiões deverá se deparar com um termo no mínimo curioso: homo religiosus. Esse termo tem sido frequentemente usado como parte de um discurso para tentar demonstrar que o homem é, por natureza, religioso. Em minhas participações em congressos acadêmicos sobre religiosidades tenho percebido que muitas pessoas estão fazendo “ciências da religião” não apenas para estudar sistemas de crenças e práticas, mas também com o objetivo explícito de defender convicções religiosas, atitude que oblitera qualquer iniciativa científica. Não quero evidentemente contrapor a ciência e a religião no sentido de preconizar a objetividade da primeira em detrimento da segunda, mas sabemos que a produção acadêmica, o discurso acadêmico preza por uma atitude de certo distanciamento do objeto, a fim de que se evite atitudes apologéticas ou, de outro lado, preconceituosas.
Diversos autores tem conceituado a religião a partir de diferentes enfoques: para Jean Delumeau, o re-ligare, expressão latina da qual deriva a nossa palavra religião, é um referência ao religar do homem com seus mortos, atitude externalizada pela realização de ritos fúnebres, de enterros que, historicamente, constitui o embrião da atitude religiosa. Para Marilena Chauí o conceito remete a um vínculo entre o mundo profano e o sagrado, “isto é, a natureza (água, fogo, ar, animais, plantas, astros, pedras, metais, terra, humanos) e as divindades que habitam a natureza ou um lugar separado da natureza”. Trata-se, nesse caso, de um meio para se compreender os fenômenos naturais, atribuir-lhes um significado e tentar controlá-los, daí a importância da magia como uma das primeiras formas de manifestação religiosa. Isso porque o sagrado e o profano passaram a constituir, segundo o historiador romeno Mircea Eliade “duas modalidades de ser no mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo de sua história”.