Respostas
Resposta:
ão é possível negar o desenvolvimento da extrema-direita no atual quadro político de crise precipitada pela campanha golpista que levaria a direita ao governo em 2016. Em um vídeo publicado na Internet, um grupo que se diz integralista afirmou ter atacado a sede da produtora do Porta dos Fundos usando coquetéis molotov. Já não falta nem a suástica (ou o sigma, na versão do fascismo brasileiro), para os mais céticos que a exigiam para acreditar no surgimento do fascismo no Brasil nos dias de hoje. Diante disso, coloca-se como uma questão que demanda reflexão e providências imediatas: o problema de como combater o fascismo.
Para apontarmos, em linhas gerais, a resposta a essa questão, devemos recorrer ao revolucionário marxista que estava vivo para analisar o fenômeno no momento em que surgiu e se desenvolveu de forma acabada, durantes as décadas de 20 e 30 do século XX na Europa, Leon Trótski. Especialmente durante os anos 30, quando a luta contra o fascismo se desenrolava na Alemanha, Trótski escreveu copiosamente sobre o assunto, deixando um legado teórico preciso para compreendermos o problema agora que estamos diante dele.
Em primeiro lugar, apontemos algumas considerações sobre o que não fazer que são bastante oportunas. Por exemplo, não adianta contar com as instituições burguesas para impedir o avanço do fascismo contra os trabalhadores. Em 1932, no texto “Que Fazer? Questão vital para o proletariado alemão”, Tróstki denunciava: “No caso do perigo atual, a socialdemocracia conta com a polícia prussiana. É contar com aquilo que não se tem”.
Trótski apontava também o erro dos socialdemocratas na época que diziam que Hitler poderia ser refreado pelo presidente (no regime parlamentar alemão) e pela Constituição. “Confiar num presidente é confiar ‘no governo’! Face ao iminente choque entre o proletariado e a pequena burguesia fascista – dois campos que conjuntamente constituem a esmagadora maioria da nação alemã – esses ‘marxistas’ do Vorwärts (Avante) – o principal jornal socialdemocrata alemã – gritam no sereno por socorro: ‘Socorro! Governo, intervenha!’”, argumentava Trótski. Estamos testemunhando por aqui, neste momento, a repetição dessas ilusões, que precisam ser esclarecidas e dissipadas.
Em 1934, em “Para onde vai a França”, Trótski defendeu a necessidade de se formar grupos de combate para defender as organizações da classe operária. “A Frente Única se revelará uma grande coisa quando os destacamentos comunistas socorrerem os destacamentos socialistas – e vice-versa –, no caso de um ataque dos grupos fascistas contra Le Populaire e L’Humanité. Mas, para que isso ocorra, os destacamentos de combate proletários devem existir, educar-se, treinar-se, armar-se. Se não há organização de defesa, isto é, milícia do povo, Le Populaire e L’Humanité poderão escrever tudo o que quiserem sobre a onipotência da Frente Única e estarão indefesos diante do primeiro ataque bem preparado dos fascistas”.
Atualmente, os comitês de luta contra o golpe, conforme resolução de sua 2ª Conferência Nacional, realizada nos últimos dias 14 e 15, coloca como tarefa a ampliação dos comitês de autodefesa, aumentando os já existentes e estimulando a formação de novos comitês por todo o país. Conforme explicou Trótski, a campanha pela formação de organizações desse tipo deve ser feita abertamente: “Enquanto campanha política, deve desenrolar-se abertamente nas reuniões, nas fábricas, nas ruas e praças públicas”.
Conforme explica o revolucionário russo, essa etapa é fundamental para a própria possibilidade de uma revolução da classe trabalhadora. “Os operários de vanguarda têm de saber que terão de lutar e ganhar uma luta de morte. Devem armar-se como garantia da sua emancipação“.
A questão fundamental, no entanto, é a formação de um partido operário revolucionário e independente. Trótski explica que o fascismo surge em um momento de crise com características revolucionárias. O grande capital, depois de destruir as classes médias, convoca essas mesmas classes médias desesperadas para combater o proletariado. Essa operação só é possível se a pequena burguesia desesperada não sentir confiança em uma saída pela esquerda para a crise por meio de um partido operário combativo e decidido.
Conforme explica Trótski em “O único caminho para a Alemanha”, publicado em 1932: “a pequena burguesia estaria disposta a conformar-se passageiramente com as crescentes privações se chegasse, pela experiência, à convicção de que o proletariado é capaz de guiá-la por uma nova estrada. Mas se o partido revolucionário se mostra sempre, apesar da intensificação ininterrupta da luta de classes, incapaz de reunir em torno de si a classe operária, se vacila, se se desorienta, se se contradiz; então, a pequena burguesia perde a paciência e começa a ver nos trabalhadores revolucionários os culpados de sua própria miséria”.