“Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. Se assim fosse, poderiam existir num homem que estivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus sentidos e paixões.”HOBBES, Leviatã, São Paulo: Abril cultural, 1979, p. 77. Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a injustiça como não pertencentes às faculdades do corpo e do espírito, considere as afirmativas: *
I.Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos homens em sociedade, e não na solidão.
II.No estado de natureza, o homem é como um animal: age por instinto, muito embora tenha a noção do que é justo e injusto.
III.Só podemos falar em justiça e injustiça quando é instituído o poder do Estado.
IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em conformidade com o poder soberano; ele favorece os mais fortes.
Quais alternativas estão corretas? *
A) I e II
B) I e III
C) II e IV
D) I, III e V
Respostas
Resposta:
b
Explicação:
A justiça e a injustiça não pertencem aos homens na solidão, pois só são instituídas com o poder do Estado. Logo, as opções I e III estão corretas e a alternativa B é a certa.
A teoria de Thomas Hobbes (1588-1679) tem sua parte mais famosa na sua teoria de Estado, exposta principalmente no Leviatã (é a besta do livro de Jó). Hobbes parte da igualdade de todos os homens – esse estado de natureza é um estado hipotético. Todos aspiram ao mesmo. Quando não o alcançam, sobrevém a inimizade e o ódio, começando aí a desconfiança e os ataques preventivos. Esse é o chamado pessimismo hobbesiano (que tem, na verdade, mais carga descritiva estrutural do que valorativa):
- homo homini lúpus, uma frase de Plauto: o homem é o lobo do homem (Competição, desconfiança e glória seriam os três motores da discórdia entre os homens – ou seja, lucro, segurança e reputação.)
Esse estado de guerra perpétua de todos contra todos só é encerrado quando o homem se dá conta de que essa situação de insegurança é insustentável: nesse estado de luta vive-se de forma miserável e o homem se vê obrigado a buscar a paz.
Transferindo-se, assim o direito (jus, ou a liberdade) de forma mútua, tem-se o inicio de uma comunidade política, formada por um pacto (contrato) inicial. Para conseguir segurança, o homem tenta substituir o estado natural pelo estado civil, mediante um pacto em que cada homem transfere seu direito/jus/liberdade para o Estado.
O soberano, então, representaria apenas essa força constituída pelo contrato, sendo o restante dos homens seus súditos. O Estado, assim constituído, é absoluto: seu poder, o mesmo que o individuo tinha antes, é irrestrito, manda sem limitação, é uma máquina poderosa, um monstro que devora os indivíduos e ante o qual não há nenhuma outra instancia, daí seu nome:
- Leviatã, como um monstro superior a tudo, como um Deus mortal, decidindo tudo: política, moral e religião (se esta não é reconhecida por ele, não passa de superstição). É uma teoria de fundo ateu (Ainda que Hobbes não fosse ateu)
Para Hobbes, não existem justiça e injustiça naturais, porque não existem valores absolutos. Todos são frutos de convenções.
Para saber mais sobre pensadores contratualistas: https://brainly.com.br/tarefa/25284612