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Na noite de sexta, dia 15/07 foi deflagrada uma ineficaz tentativa de golpe militar na Turquia em que mais de 290 pessoas morreram. Segundo autoridades turcas, após a neutralização do plano de deposição do presidente Recep Tayyip Erdogan, cerca de 6 mil pessoas foram presas no país.
Erdogan é presidente da Turquia desde 2014, mas antes foi primeiro-ministro por 11 anos. Originalmente ligado ao islã político, teve o mérito de conciliar a democracia e o mundo muçulmano, mas nos últimos anos passou a revelar de forma inequívoca o seu lado autoritário e opressor. Acusado de um enorme escândalo de corrupção envolvendo ministros e a própria família, empreendeu um expurgo nas forças policiais, no Ministério Público e no Judiciário, de forma a remover autoridades que lideravam as investigações. Culpou estas pessoas de agirem politicamente e serem integrantes do Hizmet, um movimento social e religioso que se opõe ao governo e é liderado pelo imã muçulmano Fethullah Gulen, em um auto-exílio nos Estados Unidos desde 1990. Erdogan atribui à Gulen a orquestração do golpe de Estado que lhe derrubaria do cargo de presidente.
Erdogan foi legitimamente eleito pelo voto popular, mas o autoritarismo e a perseguição que impôs ao povo convulsionou a sociedade turca, contribuindo finalmente para a eclosão do golpe. Defectivo, o movimento conspiratório fez emergir um presidente ainda mais fortalecido e disposto a levar a cabo seu projeto de criar na Turquia um governo ultracentralizado, semelhantemente ao de seu congênere Vladimir Putin na Rússia.
A instabilidade política da Turquia é razão de inquietação para o mundo ocidental que está sob forte pressão de ameaças externas como a imigração ilegal, o terrorismo e a própria desintegração da União Europeia. Em razão de sua localização geográfica a Turquia é o país de transição entre a Europa e o Oriente Médio, é membro relevante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e também um dos principais aliados dos Estados Unidos. É a partir da base estratégica de Incirlik, localizada no sul da Turquia, que são lançados os ataques americanos em território sírio contra posições do Estado Islâmico.
A Turquia desempenha uma função singular no tabuleiro geopolítico mundial. Não apenas serve como plataforma para projeção de poder do Ocidente, delimitando a zona de influência norte-americana, mas também exerce o papel de anteparo para ameaças e impasses provenientes do Oriente Médio. Um exemplo ilustrativo está no campo humanitário; ao conceder asilo a mais de 2 milhões de refugiados sírios nos últimos quatro anos, a Turquia tem atenuado os impactos da imensa crise migratória nas fronteiras da Europa.
Por qualquer ângulo que se analise o papel da Turquia no Oriente Médio, o país sempre será um jogador chave, indispensável para manter algum equilíbrio em uma das regiões mais turbulentas do mundo. Isso requer estabilidade política que só pode ser garantida por meio de uma liderança firme e honesta. Neste momento, as nações mundiais acompanham atentamente o desenrolar dos acontecimentos na Turquia e aguardam que o presidente Erdogan resista aos impulsos autoritários e reconduza o país à normalidade democrática. A Turquia pacificada representa um importante lastro de segurança e estabilidade que a União Europeia precisa neste momento de inflexão histórica.
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