• Matéria: Física
  • Autor: Victorsales546
  • Perguntado 6 anos atrás

É CORRETO AFIRMAR QUE UMA MÁQUINA COMPOSTA E CONSTRUÍDA COM BASE EM MÁQUINAS SIMPLES?

Respostas

respondido por: vrzimer
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O tratado mecânico de autoria de Galileu Galilei, que publicamos a seguir, referido pelo próprio autor como As mecânicas (Le mecaniche), consistiu originalmente de textos manuscritos, cujas cópias obtiveram ampla circulação na Europa na primeira metade do século XVII, tanto que o texto foi publicado em versão francesa por Marin Mersenne com o título Les mechaniques de Galilée, em 1634, um ano após a condenação de Galileu pelo Santo Ofício. Foi somente em 1649, sete anos após a morte de Galileu, que Luca Danesi publicou uma versão italiana, impressa em Ravena, mas, como procurasse fazer crer que havia compilado o tratado a partir dos escritos de Galileu, Danesi produziu alterações no texto, comprometendo seriamente sua autenticidade (cf. Favaro, 1933 [1891], p. 153). Foi somente na última década do século xix que Antonio Favaro examinou detidamente o conjunto de manuscritos existentes até aquele momento, conseguindo estabelecer que a cópia mais antiga datava de 1602, sem que se pudesse saber tratar-se de uma cópia direta do manuscrito autógrafo de Galileu, que já então se encontrava perdido. Trabalhando comparativamente com o conjunto de manuscritos do século XVII, Antonio Favaro estabeleceu o texto que publicou em 1891 no segundo volume de sua monumental edição das obras completas de Galileu (cf. EN, 2).

Entretanto, sete anos depois, em 1898, chegou às mãos de Favaro um manuscrito mais curto, que continha uma versão diferente, mais breve, do mesmo tratado sobre as máquinas e que trazia a data de 1594. Esse manuscrito foi chamado, segundo a cidade em que se encontrava, como manuscrito de Ratisbona (Regensburg) (Galilei, 1899 [1594]), foi publicado por Favaro no final do século XIX (cf. Drake, 1958, p. 262-4; Gatto, 2001b, p. 206-7). Outros dois manuscritos da versão breve foram posteriormente redescobertos no século XX. O manuscrito de Hamburgo, da Staats-und Universitäts-Bibliothek Hamburg, identificado por Emil Wohlwill em 1909 (cf. Drake, 1958, p. 288-90; Gatto, 2001b, p. 210) e o manuscrito de Pasadena, identificado em 1955 por Stillman Drake, que propôs logo depois uma reconstrução da versão breve, tendo por base os manuscritos de Ratisbona e de Pasadena (cf. Drake, 1958). Isso consolidou a existência de uma primeira versão do texto de Galileu. Com efeito, atualmente dispomos de três cópias da versão breve e 17 cópias da versão longa de um mesmo tratado de Galileu, do qual não sobreviveu qualquer manuscrito autógrafo.

Diante disso, é possível dizer com razoável segurança que o texto de Galileu sobre as máquinas circulou manuscrito em muitas cópias, nem todas de boa qualidade, aparentemente a partir de duas versões diferentes, feitas em épocas diferentes. Evidentemente, isso permite levantar várias questões intimamente vinculadas, a saber, qual a relação existente entre as duas versões? Qual a respectiva data de composição? Para que fins aparentes foram compostos? Que tipo de ensinamento Galileu pretendia oferecer com eles? Para que tipo de instrução eles serviam ou foram usados? E finalmente por que Galileu não se preocupou em publicá-las?

Em primeiro lugar, cabe notar uma diferença clara de elaboração entre as duas versões, responsável também pela clara anterioridade da versão breve. Nesta, falta a parte introdutória sobre a natureza das máquinas e também a fundamentação teórica, além de que as cinco divisas mecânicas tratadas (balança, alavanca, cabrestante, parafuso, talha) são apresentadas com um estilo híbrido que mistura o modo de exposição das Questões mecânicas de Aristóteles, no qual os capítulos são organizados em torno das soluções para problemas1 mecânicos com o modo de exposição do "teatro de máquinas" renascentista, onde cada máquina é exposta independentemente como um exemplar único, mediante a apresentação de um esquema (desenho) e uma prova, sem que fique clara a existência de um princípio comum (ou mesmo porque ele não é necessário para esse estilo de exposição)

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