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O cinema recria períodos históricos com base em duas chaves-mestras. A primeira elege protagonistas – em geral, líderes e ativistas políticos – e refaz seus passos. A segunda deixa de lado os supostamente grandes personagens para se dedicar a gente comum, que tenta levar a vida em tempos difíceis e sombrios. Guerra fria, já em cartaz nos cinemas e em breve nas plataformas de streaming, é um extraordinário representante da segunda corrente, a que prefere as histórias sobre anônimos cujas trajetórias ajudam a compreender melhor as sociedades em que viveram.
O diretor e roteirista polonês Pawel Pawlikowski – que recebeu o Oscar de filme estrangeiro em 2015 por Ida, que se ambienta nos anos 1960, mas cuja trama remete à ocupação alemã da Polônia durante a II Guerra Mundial – dedica-se desta vez a explorar (e também em preto-e-branco) o impacto da “guerra fria” entre EUA e a extinta União Soviética sobre dois cidadãos poloneses: um maestro que coordena uma escola de música folclórica (Tomasz Kot) e uma jovem recrutada por ele que se transforma em cantora e dançarina (Joanna Kulig).
Em concisos 88 minutos, o filme cobre a relação entre os dois ao longo dos anos 1950 e 1960. Ao fundo, e sem que ninguém na tela precise fazer discurso para que o espectador entenda o que se passa, corre a História – que, embora diga respeito especialmente à Europa, afetou também países como o Brasil, em que o golpe de 1964 reverberou a mesma tensão política e econômica. Guerra fria recebeu o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes e os prêmios de melhor filme, direção, roteiro, atriz e montagem pela Academia Europeia de Cinema, entre muitos outros.