Vale por dois Pela manhã, ao sair de casa, olha antes à janela: — Estará fazendo frio ou calor? Veste um terno de casimira, torna a tirar, põe um de tropical. Já pronto para sair, conclui que está frio, devia ter ficado com o de casimira. Enfim... Consulta aflitivamente o céu nublado: será que vai chover? Volta para pegar o guarda-chuva — um homem prevenido vale por dois: pode ser que chova. Já no elevador, resolve mudar de ideia: mas também pode ser que não chova. Carregar esse trambolho! Torna a subir, larga em casa o guarda-chuva. Já na esquina, coça a cabeça, irresoluto: de ônibus ou de táxi? Se passar um lotação jeitoso eu tomo. Eis que aparece um: não é jeitoso. Vem em disparada, quase o atropela para deter-se ao sinal que lhe fez. Não, não entro: esse é dos doidos, que saem alucinados por aí. Deixa que os outros passageiros entrem — quando afinal se decide — também a entrar, é barrado pelo motorista: não tem mais lugar. De táxi, pois. Logo virá outro — pensa, irritado, e se vê de súbito entrando num lotação. Ainda bem não se sentara, já se arrependia: é um absurdo, são desvairados esses motoristas, como é que deixam gente assim tirar carteira? Assassinos — assassinos do volante. Melhor saltar aqui, logo de uma vez. Poderia esperar ainda dois ou três quarteirões, ficaria mais perto... Deu o sinal: salto aqui, decidiu-se. O lotação parou. — Pode tocar, foi engano — balbuciou para o motorista. Já de pé na calçada, vacila entre as duas ruas que se oferecem: uma, mais longa, sombreada; outra, direta, castigada pelo sol. Não iria chover, pois: sua primeira vitória neste dia. — Se for por esta rua, chego atrasado, mas por esta outra, com tanto calor... Só então se lembra que ainda não tomou café: entra no bar da esquina e senta-se a uma das mesas. — Um. O garçom lhe informa que não servem cafezinho nas mesas, só no balcão. Pensa em sair, chega mesmo a empurrar a cadeira para trás, mas reage: pois então tomaria outra coisa ora essa. Como também pode simplesmente sair do bar sem tomar nada, não é isso mesmo? — Me traga uma média — ordena, com voz segura que a si mesmo espantou. Interiormente sorri de felicidade — mais um problema resolvido. — Simples ou com leite? Pergunta o garçom, antes de servir. Ele ergue os olhos aflitos para o seu algoz, e sente vontade de chorar. SABINO, Fernando. Vale por dois. In: Quadrante 1. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. p. 88-90. No trecho “Poderia esperar ainda dois ou três quarteirões, ficaria mais perto…”, as reticências foram empregadas a fim de denotar A dúvida. B certeza. C emoção. D continuidade. E interrupção da fala.
paulovictorcarvalho3:
resposta: D continuidade
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Acerca das reticências presentes no texto, é correto afirmar que estas transmitem a ideia de D. continuidade.
As reticências são amplamente utilizadas na escrita, com a representação de três pontos no fim, início, ou meio de uma frase, representando a existência de uma ideia que não apresentou fim, conclusão, e que ainda deve ser abordada ou analisada.
Além disso, a mesma pode ser empregada diante da omissão de um assunto que deixou de ser abordado.
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