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Quando os primeiros seres humanos ditos civilizados do continente europeu depararam-se com o atual território brasileiro há mais de 500 anos, o conjunto de florestas conhecido popularmente como Mata Atlântica dominava uma extensão territorial superior a 1,3 milhão de km². Durante muito tempo, gerações inteiras puderam vislumbrar a magnitude imponente daquela floresta, com sua gigantesca biodiversidade, suas árvores, animais e solo fértil.
A relação entre seres humanos e natureza parece que sempre se deu de forma fria e desigual. A exploração predatória e perdulária dos recursos naturais e florestais sempre fez parte da história do homem. No Brasil, os diversos “ciclos” econômicos, tais como o do ouro, o da cana-de-açúcar, o do café, devastaram enormes áreas florestais. A conversão de áreas para atividades agropastoris e polos silviculturais e um ligeiro processo de industrialização e urbanização legaram à sociedade porções ínfimas da floresta ao longo do território.
Ao estudar a curta História do Brasil, verificamos a história da devastação, depredação e dilapidação de sua natureza, de sua floresta, de seu meio ambiente. São 500 anos ininterruptos de ocupação sem a menor preocupação ambiental e que levaram a Mata Atlântica a sua quase extinção total. Os motivos e contextos são obviamente variados, mas nunca se devastou tanto quanto no período da expansão cafeeira do século XIX e da ditadura militar de 1964-1985. Durante o período militar, a política desenvolvimentista que atingiu o auge na década de 70 incentivou a construção de grandes hidrelétricas, pontes, rodovias, barragens, usinas nucleares, expansão agrícola desenfreada e a implementação de grandes conglomerados industriais, a exemplo de Cubatão. Assim, áreas gigantescas de florestas com sua megadiversidade foram simplesmente dizimadas, contribuindo como nunca para a sua fatídica fragmentação e fragilização.
Hoje, o que temos para ver e conhecer da antiga Mata Atlântica são apenas 12,5% do que restou. Seu território original passa por 17 Estados brasileiros, incluindo as maiores metrópoles (e, consequentemente, as cidades mais poluidoras) do país, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, em um espaço total onde habitam mais de 108 milhões de pessoas, agregando três mil municípios.
Apesar de sua iminente extinção e da consciência de órgãos governamentais e civis, ainda se continua devastando a Mata Atlântica. Em 1997, foram retirados da região da Serra da Cantareira em São Paulo – considerada a maior floresta urbana do mundo – um milhão de árvores. Na região litorânea, a situação não é menos caótica para a floresta, especulação imobiliária, pressão demográfica e ocupação desregrada estimulam a degradação ambiental.
As atuais áreas de conservação de Mata Atlântica são somente remanescentes patéticos do que foi antes uma grande floresta. O que podemos fazer é tentar aprender com os erros do desenvolvimento de nossas sociedades. Nesse aspecto, não podemos deixar que uma floresta com o porte do que é ainda hoje a Floresta Amazônica desapareça em meio a concreto, indústrias, poluição, superpopulação e campos imensos de agricultura monocultora de exportação: a pura manifestação do desenvolvimento insustentável do ser humano. Nesse sentido, o estudo da História da Mata Atlântica pode trazer às pessoas o potencial de conhecimento necessário para o aprimoramento de nossa relação com toda a natureza.