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Num fim de tarde qualquer de 1970, Manoel Ferreira e Ruth Amaral estavam em casa, jogando cartas com os vizinhos. Um toque na campainha do apartamento do casal, na avenida São João, no Centro de São Paulo, interrompe o passatempo. À porta está outra vizinha, que quer perguntar algo para Ruth - o que, exatamente, ela já não lembra. Caso encerrado, a dona da casa retoma sua vez no baralho. O marido a cutuca por baixo da mesa: "Já temos música para o próximo carnaval". E assim nasciam os versos: "Ai, a bruxa vem aí / e não vem sozinha, / vem na base do saci". "Quando vi a vizinha, a música me saltou na hora à mente. Ela era tão esquisitinha que, para bruxa, só faltava mesmo a vassoura", diz Manoel, rindo. Gravada por Sílvio Santos, a canção estourou nos bailes de carnaval da época e atravessou os anos como parte da trilha sonora de programas do apresentador de TV.
Incorretas e eternas
O episódio resume o tom das marchinhas, gênero musical carnavalesco que narra temas cotidianos em versos simples e irônicos, que "colam" na memória dos foliões. "Quanto mais curta a letra, fica mais fácil para o público gravar e cantarolar bem", afirmam Ruth e Manoel. "A marchinha é o poder da concisão. Ela diz tudo em poucas palavras, acompanhadas de uma melodia nova e agradável", diz o músico veterano João Roberto Kelly.