• Matéria: Sociologia
  • Autor: yasmimestevaodasilva
  • Perguntado 6 anos atrás

– Iiiih…

– E agora?

– Vamos ter que conversar.

– Vamos ter que o quê?

 – Conversar. É quando um fala com o outro.

– Fala o quê?

– Qualquer coisa. Bobagem.

– Perder tempo com bobagem?

– E a televisão, o que é?

– Sim, mas aí é a bobagem dos outros. A gente só assiste. Um falar com o outro, assim, ao vivo…

Sei não…

– Vamos ter que improvisar nossa própria bobagem.

– Então começa você.

– Gostei do seu cabelo assim.

– Ele está assim há meses, Eduardo. Você é que não tinha…

– Geraldo.

– Hein?

– Geraldo. Meu nome não é Eduardo, é Geraldo.

– Desde quando?

– Desde o batismo.

– Espera um pouquinho. O homem com quem eu casei se chamava Eduardo.

– Eu me chamo Geraldo, Maria Ester.

– Geraldo Maria Ester?!

– Não, só Geraldo. Maria Ester é o seu nome.

– Não é não.

– Como, não é não?

– Meu nome é Valdusa.

– Você enlouqueceu, Maria Ester?

– Pelo amor de Deus, Eduardo…

– Geraldo.

– Pelo amor de Deus, meu nome sempre foi Valdusa. Dusinha, você não se lembra?

– Eu nunca conheci nenhuma Valdusa. Como é que eu posso estar casado com uma mulher que eu

nunca… Espera. Valdusa. Não era a mulher do, do… Um de bigode…

– Eduardo.

– Eduardo!

– Exatamente. Eduardo. Você.

– Meu nome é Geraldo, Maria Ester.

– Valdusa. E, pensando bem, que fim levou o seu bigode?

– Eu nunca usei bigode!

– Você é que está querendo me enlouquecer, Eduardo.

– Calma. Vamos com calma.

– Se isso for alguma brincadeira sua…

– Um de nós está maluco. Isso é certo.

– Vamos recapitular. Quando foi que casamos?

– Foi no dia, no dia…

– Arrá! Tá aí. Você sempre esqueceu o dia do nosso casamento… Prova de que você é o Eduardo e a

maluca não sou eu.

– E o bigode? Como é que você explica o bigode?

– Fácil. Você raspou.

– Eu nunca tive bigode, Maria Ester!

– Valdusa!

– Tá bom. Calma. Vamos tentar ser racionais. Digamos que o seu nome seja mesmo Valdusa. Você

conhece alguma Maria Ester?

– Deixa eu pensar. Maria Ester… Nós não tivemos uma vizinha chamada Maria Ester?

– A única vizinha de que eu me lembro é a tal de Valdusa.

– Maria Ester. Claro. Agora me lembrei. E o nome do marido dela era… Jesus!

– O marido se chamava Jesus?

– Não. O marido se chamava Geraldo.

– Geraldo…

– É.

– Era eu. Ainda sou eu.

– Parece…

– Como foi que isso aconteceu?

– As casas geminadas, lembra?

– A rotina de todos os dias…

– Marido chega em casa cansado, marido e mulher mal se olham…

– Um dia marido cansado erra de porta, mulher nem nota…

– Há quanto tempo vocês se mudaram daqui?

– Nós nunca nos mudamos. Você e o Eduardo é que se mudaram.

– Eu e o Eduardo, não. A Maria Ester e o Eduardo.

– É mesmo…

– Será que eles já se deram conta?

– Só se a televisão deles também quebrou.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. “Estragou a televisão”. In: Histórias brasileiras de verão: as melhores crônicas da vida íntima. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. Adaptado.

1 – A partir da leitura do texto, assinale a alternativa CORRETA.

 (a) O objetivo da crônica de Luís Fernando Veríssimo é descrever a discórdia de um casal enquanto assiste à televisão.

 (b) O cronista homenageia o típico relacionamento contemporâneo que não se deixa entorpecer pela televisão. 

 (c) O escritor Luís Fernando Veríssimo critica a incomunicabilidade e a indolência de um casal por causa da televisão. 

 (d) O objetivo da crônica “Estragou a televisão!” é valorizar o arrefecimento do relacionamento moderno diante da televisão.

 (e) O cronista reprova a insensatez de um casal que, diante dos problemas conjugais, não dá valor ao televisor.

Respostas

respondido por: nicoly10694
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Explicação:

item C

O escritor Luís Fernando Veríssimo critica a incomunicabilidade e a indolência de um casal por causa da televisão. 

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