• Matéria: Português
  • Autor: Robson24062019
  • Perguntado 6 anos atrás

Poema em linha reta Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) Poema em linha reta é um dos mais importantes poemas de Fernando Pessoa (assinado por Álvaro de Campos, seu heterônimo). Sobre o poema, analise as afirmações que seguem: I- Trata-se de uma crítica social construída por meio de uma linguagem irônica, atingindo seu ápice nos versos "Poderão as mulheres não os terem amado, / Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! / E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, / Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? / Eu, que tenho sido vil, literalmente vil, / Vil no sentido mesquinho e infame da vileza". II- Por meio de uma autocaracterização pejorativa, o eu lírico expressa uma ideia de contraste entre ele e a sociedade, revelando assim o sentimento de estar à margem do mundo: “Arre, estou farto de semideuses! / Onde é que há gente no mundo?”. III- Ao afirmar, no primeiro verso do poema, que nunca conheceu quem tivesse levado porrada, o poeta declara-se vítima desse ato violento cometido pela própria existência. Seus pares, homens perfeitos, caminham em “linha reta”, por isso imunes aos revezes da vida, enquanto o poeta, humano e imperfeito, sofre com as intempéries da vida. IV- O poema em prosa tem como objetivo romper a barreira do real, atingindo assim bases surrealistas. As imagens são, predominantemente, de inspiração simbolista. O eu lírico afasta-se da realidade e alcança o universo onírico utilizando recursos sinestésicos. São CORRETAS as afirmações contidas em: [ ] I, III, IV. [ ] II, III, IV. [ ] I, II, IV. [X ] I, II, III. [ ] I, IV.

Respostas

respondido por: v170r1454n705
16

1°,2° e 3° afirmativas

respondido por: torres320
1

Sobre o Poema em linha reta, estão corretas as alternativas, exceto esta: O poema em prosa tem como objetivo romper a barreira do real, atingindo assim bases surrealistas. As imagens são, predominantemente, de inspiração simbolista. O eu lírico afasta-se da realidade e alcança o universo onírico utilizando recursos sinestésicos. Dessa maneira, a alternativa D é a que deve ser assinalada.

Quais são os erros?

Inicialmente, o erro já está em indicar que o texto é em verso, pois é um texto poético, um poema, e não um texto em prosa, isto é, em parágrafos.

Além disso, o poeta, com ironia, critica a sociedade e não se distancia dela, com viés onírico, de base surrealista, como mencionado na alternativa D.

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Bons estudos!

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