• Matéria: Matemática
  • Autor: wallacedienifer564
  • Perguntado 6 anos atrás

TEXTO - VIRUS QUE
SACUDIU
A BUROCRACIA​

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respondido por: lanakelenin33
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As mortes se sucedem e alimentam a tristeza. A agonia é a nossa companheira mais fiel nessas semanas com gosto de fel. Não sabemos quanto tempo isso vai durar, nem mais quantas horas cabem em cada dia, de onde vêm a ansiedade e as manias das entediantes rotinas, e nem mesmo mais quanto tempo o tempo tem, ou melhor, quanto tempo ainda temos. A pressa para nos livrarmos logo dessa pandemia vem acompanhada da indagação sobre em quanto tempo haverá uma nova mutação, em quanto tempo teremos que novamente nos trancafiar na solidão, nos isolarmos dos outros e limparmos obsessivamente tudo que é e não é de limpar, tudo que, quem sabe, possa nos tornar mais um transmissor da morte para o amigo, o pai, a mãe, o avô ou alguém com, digamos, menos sorte. Alguns analistas, tão catastrofistas quanto realistas, já cogitam para amanhã uma sociabilidade sem social, um convívio sem convivência, um mundo no qual todo e qualquer contato físico, do aperto de mão à penetração, passando pela prosaica e vital respiração, será sempre perigoso – sem nada ter de divino ou maravilhoso.

Do lado do capital, a defesa é de que o show não pode parar, a acumulação não pode parar de acumular, e suas frações se dividem por ora quanto às proporções do espetáculo, isto é, quanto ao número de contrarregras, montadores, eletricistas, roodies e demais trabalhadores que precisam labutar, com ou sem máscara, para que o palco, luz e som estejam sempre prontos, de modo que, com mais ou menos público, tudo siga mais ou menos como estava. Alguns querem mais, e outros, menos delirantes, porém não menos gananciosos, toleram menos, pelo menos por enquanto. A lógica de um autômato que não pode deixar de ser alimentado custe o que custar – e esse custo pode ser calculado em corpos – não se restringe, porém, aos dominantes. Afinal, as ideias dominantes de um tempo, já disseram lá dois alemães de antanho, são as ideias da classe dominante. Não é assim de surpreender, salvo para os adversários do conceito de ideologia, que milhões de trabalhadores não só estejam trabalhando compulsória e ordinariamente, como também o estejam fazendo enquanto bradam a necessidade da manutenção do funcionamento da máquina. Como coveiros enlouquecidos que cavam a própria cova a serviço daqueles que deveriam ser, eles sim, historicamente enterrados, levantam suas pás e exigem seu direito de trabalhar, ainda que seu trabalho não lhes ofereça mais do que um trocado que lhes permite pouco além do que estar vivo no dia seguinte para trabalhar, outros enterrar e, um dia, sem aposentadoria, sem paz, sem nada, na cova descansar.

Curiosamente, até mesmo entre os declarados alvos do capital em tempos de capitalismo ultraneoliberal a lógica acima não só tem lugar como só faz grassar. Como o covid 19, ela parece não ter limites em sua expansão e transmissão, penetrando sub-repticiamente ou não tanto na rotina do mais longínquo rincão, no mais árido cenário de extrema pobreza, assim como nos espaços comandados por aqueles tidos como homens de talento, ciência e destreza. Assim, nas universidades, fontes de todo o mal segundo o ideário neoliberal, e de todo o doutrinarismo segundo o neofascismo, também é possível notarmos como, por meio de uma forma mais suave e melhor redigida, também nossas vidas são impelidas a tentar seguir ordeiramente o ramerrão, ainda que com lamentação, afinal, o show intelectual, cada vez mais burocrático e formal, também não pode parar, ao menos enquanto um professor, pesquisador, aluno ou técnico puder respirar.

É isso q vc quis dizer?

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