Respostas
No modo geral entende-se o ritual como um sistema cultural e religioso de
comunicação simbólica, elaborado com certas sequências ordenadas e padronizadas de
silêncio, palavras e atos normalmente expressos por múltiplos meios que possuem
conteúdos variados. A noção de ritual veio a se tornar uma categoria de análise no
século XIX no âmbito da antropologia e da religião devido às inúmeras pesquisas de
campo realizadas pelos antropólogos em diversos continentes.
Encontra-se a definição do James Frazer, que assume a posição de que o rito
era uma prática universal, classificando suas formas de expressão, distinguindo-as em
práticas mágicas e práticas religiosas. A semente do desenvolvimento dos rituais se
encontra na crença na ordem regular da natureza. Mas às vezes a natureza parecia fugir
de sua regularidade causando as tempestades, enchentes e secas criando o medo e
preocupação no homem primitivo. Dentro dessa realidade os ritos mágicos foram
desenvolvidos e conforme Frazer, que estes ritos se baseiam na confiança do homem
em poder controlar diretamente a natureza. Os dois princípios nos quais fundamentam
os ritos mágicos são: “que o semelhante produz o semelhante, ou que um efeito se
assemelha a sua causa; e, segundo, que as coisas que estiveram em contato continuam a
agir umas sobre as outras, mesmo à distância, depois de cortado o contato físico”
(Frazer, 1982: 34).
Mais tarde no percurso do desenvolvimento o primitivo percebeu que os ritos
mágicos não podiam mais controlar a ordem natural e assim desenvolveu-se a religião
onde se estabelece o reconhecimento da impotência humana diante da natureza. A causa
dos fenômenos da ordem natural, segundo esta concepção, não está, portanto, na
natureza, mas está além dela, na ordem do pensamento. Posteriormente diversos
antropólogos apontaram as diversas finalidades dos rituais entre elas à superação de
conflitos sociais (Turner), a preservação da coesão social (Durkheim), a promoção do
controle das incertezas e do perigo (Malinowski), a expressão dos conflitos de status
(Gluckman) o espelhamento da estrutura social (Geertz) e cura com a base no
pronunciamento de mantras (Tambiah).
No campo especifico da Religião os rituais assumem três aspectos importantes.
1. Garantir a sobrevivência e da difusão da tradição religiosa.
2. Preservação dos mitos e doutrina da tradição religiosa.
3. Resolver os problemas atuais, cura e assim promover o vinculo de pertença.
1. Garantir a sobrevivência e da difusão da tradição religiosa
A sobrevivência de qualquer tradição religiosa depende da profundidade do
conteúdo e uso dos mecanismos para oferecer esse conteúdo. A princípio o conteúdo
religioso de uma tradição religiosa se encontra nos mitos, lendas, rituais, pessoa do
fundador e na sua doutrina. A importância dos rituais nesse caso é perpetuar a figura do
fundador e fazer sua doutrina relevante para os tempos atuais. Os rituais estabelecem
uma ponte entre o passado e futuro criando um fio condutor desde os tempos antigos até
aos tempos modernos.
Nos últimos anos as religiões tradicionais deixaram seus ambientes de origem e
cruzaram as fronteiras levando seus conteúdos para os novos ambientes culturais e
religiosos. Esse processo conhecido como difusão da religião e conforme Perry (1992)
distingue três variações principais nas respostas às religiões importadas nos novos
ambientes: rejeição, aceitação e aceitação acompanhada por alterações importantes.
(PERRY apud MONTGOMERY, 1996). Nesse contexto percebemos que toda a religião
que cruza uma fronteira sócio-cultural assume novas características que refletem a
cultura do grupo receptor. Além de doutrina, mitos e fundador os rituais assumem o
papel importante na manutenção do conteúdo original e ao mesmo assume as
modificações necessárias para que o conteúdo religioso seja compreendido pelos novos
adeptos. Um exemplo muito visível no Brasil seria a difusão do budismo tibetano com
seus complexos rituais.
2. Preservação dos mitos e doutrina da tradição religiosa
Nos tempos atuais onde a pesquisa cientifica exige toda explicação para tudo o
que existe, a mentalidade religiosa humana busca voltar às fontes originárias. Enquanto
a pesquisa cientifica apresenta o futuro como ‘perpétuo’ e ‘eterno’ com seus avanços
tecnológicos e medicinais; o campo religioso apresenta a tendência humana que
considera o principio como preservadora dos valores eternos. Para a ciência o futuro é
perfeito e para a religião o passado é perfeito. Dentro dessa mentalidade percebe-se que
a repetição dos rituais nas tradições religiosas é uma forma de permanecer ligado com o
passado que é carregado dos mitos e lendas. Por exemplo, dentro da tradição hinduísta,
o épico Ramayana é apresentado numa forma ritualística na festa de dussera (mês de
outubro) onde os aspectos míticos são perpetuados, nesse caso a verdade sempre vence
o mal.