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Um dos textos mais divertidos de Machado de Assis, o conto “O alienista” fala das tentativas de um cientista para descrever, definir e tratar a loucura. Tema recorrente no autor, a loucura figura em dois de seus clássicos: ela acomete o filósofo Quincas Borba, no romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de 1881, e também o professor Rubião, no livro “Quincas Borba”, de 1891.
Em “O alienista”, o escritor vai esmiuçar o tema com alta dosagem de humor. Publicado em folhetim entre outubro de 1881 e março de 1882 (e republicado no volume de contos “Papéis avulsos”, de 1882), “O alienista” conta a história do afamado médico psiquiatra Simão Bacamarte, cientista reconhecido e louvado na Europa e que, de volta a sua cidadezinha natal, Itaguaí, no Rio de Janeiro, instala um hospício, batizado de Casa Verde.
Saudado num primeiro momento como benemérito, o respeitado cientista passa a aterrorizar o lugarejo, pois muitos de seus pacatos cidadãos são internados na Casa Verde, sob a alegação de portarem este ou aquele sintoma das mais variadas enfermidades do espírito. O médico não poupa ninguém: desde ilustres autoridades a gente simples, todos parecem exibir algum desvio de caráter, alguma perturbação psicológica, qualquer problema a ser estudado sob o crivo da ciência tão bem representada pelo médico. O hospício fica lotado.
Acusado de mercador da ciência, Bacamarte abre mão de seus vencimentos e continua os estudos. Até mesmo a mulher do médico, dona Evarista, acaba internada. Tantas internações provocam revolta na população. Na primeira delas, quando o médico pensa que todo seu trabalho está perdido, a Casa Verde é salva por um acordo espúrio proposto pelo líder da sedição, o barbeiro Porfírio.
O escritor parece divertir-se com os tipos e situações que cria, com a análise refinada de personagens em situações-limite, bem como das nuanças de personalidade reveladas por esta ou aquela ocasião. Mas cautela no juízo apressado: Machado nunca foi um obscurantista ou um tolo avesso à Ciência – tipo tão comum nos dias que correm.
Sua crítica recai sobre os dogmas (e a arrogância neles embutida) de alguns discursos e métodos que se proclamam infalíveis e inquestionáveis. As certezas de Simão Bacamarte dissolvem-se rápido e são repostas por outras tantas, que também se evaporam. Nada fica, a não ser a dúvida de quem é o maior maluco dessa história