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CENÁRIO DA SOCIABILIDADE COTIDIANA


VIZINHOS, RELACIONAMENTOS E INTERNAUTAS


Estudiosos do comportamento humano na vida moderna constatam que um dos males da nossa época é a incomunicabilidade das pessoas. Já foi o tempo em que, mesmo nas grandes cidades, nos bairros residenciais, ao cair da tarde era costume os vizinhos se darem boa noite, levarem as cadeiras de para as calçadas e ficar batendo papo sobre a sua própria vida e a dos outros vizinhos e conhecidos.

A densidade demográfica, os apartamentos, a violência urbana, o rádio e mais tarde TV ilharam cada indivíduo no casulo doméstico. Moro há 18 anos num prédio da Lagoa Rodrigo de Freitas, tirando os raros e inevitáveis cumprimentos de praxe no elevador ou garagem, não falo com eles nem eles comigo. Não sou exceção, muito pelo contrário, nesse departamento sou a regra.

Daí que não entendo a pressão que volta e meia me fazem para navegar por essa tal de internet. Um dos argumentos que me dão é que posso falar com qualquer pessoa em qualquer local do mundo, saber como vão as colheitas de arroz na China e como estão os melões na Espanha.

Uma das minhas filhas vangloria-se de ser internauta. Tem amigos nos Estados Unidos e arranjou um admirador na Irlanda. Para convencê-la de seus méritos, ele mandou uma foto em cor que foi impressa em alta resolução. É um jovem simpático, de bigode e com um sorriso honesto. Pode ser que tenha mandado a foto de algum amigo bem afeiçoado em seu lugar, ou até mesmo de um desconhecido retirado da própria internet, por que não?

Lembro muito bem como era agradável a sensação de trocar correspondência com quem a gente flertava (sim, na minha época a gente usava termo) e nutria sentimentos. A ansiedade em receber a carta de um (a) pretendente e tentar adivinhar quais palavras foram redigidas com tanto esmero, sem mencionar no fato que podíamos avaliar e admirar a caligrafia dessa pessoa. Acredito que com a chegada da internet, esse sentimento, tenha de certa forma esfriado e morrido. Dando lugar a velocidade e praticidade que é enviar um e-mail.


Para vencer a barreira da incomunicabilidade que foi criada com a chegada da internet, acredito que o internauta deva primeiro aprender a se comunicar com seu vizinho de porta, de prédio, de rua. Passamos uns pelos outros com o desdém de nosso silêncio, da nossa cara amarrada e repleto de cólera por estar atrasado para algum compromisso e nesse processo todo perdemos quase que por completo a empatia pelo próximo. Os suicidas se sentem realizados, por que na hora do desespero, um pouco antes do seu ato final, partem tranquilos sabendo que irão receber um pouco de atenção pelos próximos dias, mesmo estando cientes que não estarão mais presentes entre nós.

Carlos Heitor Convy. Folha de São Paulo, 26 de junho de 1997.


1 ) Segundo o jornalista que escreveu esse texto as pessoas se afastaram, perderam a capacidade de dialogar e se isolaram muito em relação ao passado. Você acredita que a correria do dia a dia causado pela modernidade, tecnologia e a internet favoreceram para essa mudança? Justifique sua resposta

Answer 1

Resposta:

Sim.

Explicação:

Com o passar do tempo esquecemos do coletivo, a tecnologia influencia tantos aspectos da vida cotidiana que chega até mesmo a alterar a forma como o ser humano se relaciona,  a tecnologia pode ser, ao mesmo tempo, capaz de quebrar barreiras físicas e também de proporcionar isolamento, querendo só um pouco de atenção , mas encontrou a própria solidão em mundo cheio de vazio, ninguém se preocupa um com o outro, só querem segurar uma curtida.