• Matéria: Português
  • Autor: jreis8129
  • Perguntado 6 anos atrás

(UERJ/2020) - Leia mais um trecho do conto “Hora

de alimentar as serpentes”, de Marina Colasanti.

PESCANDO NA MARGEM DO RIO

1 Era um homem muito velho, que cada manhã

acordava certo de que aquela seria a última. E porque

2 seria a última, pegava o caniço, a latinha de iscas, e

ia pescar na beira do rio. As poucas pessoas 3 que

ainda se ocupavam dele reclamaram, a princípio.

Que aquilo era perigoso, que ficava muito só, 4 que

poderia ter um mal súbito. Depois, considerando que

um mal súbito seria solução para vários 5 problemas,

deixaram que fosse, e logo deixaram de reparar

quando ia. O velho entrou, assim, na 6 categoria dos

ausentes.

7 Ausente para os outros, continuava docemente

presente para si mesmo.

8 Ia ao rio com a alma fresca como a manhã.

Demorava um pouco a chegar porque seus passos

eram 9 lentos, mas, não tendo pressa alguma, o

caminho lhe era só prazer. Não havia nada ali que

não 10 conhecesse, as pedras, as poças, as árvores, e

até o sapo que saltava na poça e as aves que

cantavam 11 nos galhos, tudo lhe era familiar. E

embora a natureza não se curvasse para

cumprimentá-lo, sabia-se 12 bem-vindo.

13 O dia escorria mais lento que a água. Quando

algum peixe tinha a delicadeza de morder o seu 14

anzol, ele o limpava ali mesmo, cuidadoso, e o

assava sobre um fogo de gravetos. Quando nenhuma

15 presença esticava a linha do caniço, comia o pão

que havia trazido, molhado no rio para não ferir 16 as

gengivas desguarnecidas.

17 À noite, em casa, ninguém lhe perguntava como

havia sido o seu dia.

18 Fazia-se mais fraco, porém.

19 E chegou a manhã em que, debruçando-se sobre a

água antes mesmo de prender a isca na barbela 20

afiada, viu faiscar um brilho novo. Apertou as

pálpebras para ver melhor, não era um peixe.

Movido 21 pela correnteza, um anzol bem maior do

que o seu agitava-se, sem isca. Por mais que se

esforçasse, 22 não conseguiu ver a linha, enxergava

cada vez menos. Nem havia qualquer pescador por

perto.

23 O velho não descalçou as sandálias, as pedras da

margem eram ásperas.

24 Entrou na água devagar, evitando escorregar. Não

chegou a perceber o frio, o tempo das percepções 25

havia acabado. Alongou-se na água, mordeu o anzol

que havia vindo por ele, e deixou-se levar.

O conto constrói um paradoxo, que está formulado

em

(A) o velho rejuvenesce.

(B) o peixe se torna isca.

(C) o pescador é pescado.

(D) a natureza se artificializa.

(E) passos lentos, mas não tendo pressa.​

Respostas

respondido por: sharabrito100
9

Letra C

Espero ter ajudado!

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